O Autor em 1973 Nome Leão Verde Localização Norte de Portugal Ver o meu perfil completo Música Angolana
Os Temas do ReviverRiquita«»Miss Portugal 1971 O Meu Percurso Militar Hoje Faço Anos "Maria da Fonte" «» [III/III] "Maria da Fonte" «» [II/III] "Maria da Fonte" «» [I/III] Encontro(s) da Noite «» [II/II] Encontro(s) da Noite «» [I/II] No Palco com ...[IV] Parabens Mano Mário Faz Hoje 42 Anos «» Sporting 5/Benfica 2 Luanda 1963 «» a Grande Enxurrada R.I.21 «» a Recruta [III/III] R.I.21 «» a Recruta [II/III] R.I.21 «» a Recruta [I/III] Parabéns Mana Faty Bairro Caop «» [meu 2º Bairro] No Palco com ... [III] O "Zé da Fisga" A Carta de Condução Cine Tropical «» Tardes Dançantes Expulso [II/II] Expulso [I/II] Amor Perdido «» [o Fim] Amor Perdido «» [a Confirmação] Amor Perdido «» [o Inicio] No Palco com ... [II] Meu Primeiro Disco Luanda // Nova Lisboa [IV/IV] Luanda // Nova Lisboa [III/IV] Luanda // Nova Lisboa [II/IV] Luanda // Nova Lisboa [I/IV] Ambriz/71 a Luanda/75 «» Mitsuko No Palco com ... [I] Correr pelo Rival Mudar de Rumo [I] «» Hotel Trópico Filme de Terror "Treme Treme" «» o Prédio Zau Évua «» Natal 1972 Ambriz «» o Primeiro Poema Romagem a Porto Quipiri Namoro Negro Casamentos "à Pato" Joana "Maluca" Aquela Música/o Momento Parabéns Mano Mário Casamento «» Foi há 34 Anos Recital de Piano O “Heroi” da Noite Marcha Estudantil Nocturna Relembrar o Clube “Jacaré” Juventude Operária Católica Jogar à Bola Recordar Luanda Relembrar o Carro da TIFA As Passagens de Ano no Outro Lado do Tempo Ambriz «» Natal 1971 Independência foi há 33 anos [parte última] Independência ... Foi há 33 anos [parte II] Independência ... Foi há 33 anos [parte I] Independência ... Foi há 33 anos [introdução] Encontro em Luanda Festival Yé - Yé 1967 Adeus... AMIGA Reviver Estórias «» o Blog Leão Verde «» a Origem Reviver Estórias «» o Nome Parabéns Arquivos |
segunda-feira, 10 de outubro de 2011 Luanda «» Encontro(s) da Noite [I/II]Luanda. Ano de 1974. Vivo no "meu" novo bairro e rua; Bairro Caop, Rua Dr. João das Regras. Começa a anoitecer. É sexta-feira de um qualquer mês, talvez Outubro ou Novembro, devido ao calor que já se faz sentir. Após mais um dia de trabalho como oficial de diligências no 7º Juízo Criminal tomo um duche retemperador das energias dispendidas e preparo-me para a noite. Mas antes e porque ainda é cedo para ser tarde irei dormitar um pouco para que depois a noite fique tarde para ser ainda cedo. Eram as loucas noites mais que vividas, de dias parecendo ter mais de 24 horas, de directas sem fim. Eram as noites do não amanhã dadas as incertezas que o dia-a-dia transmitia. Eram noites que já me faziam começar a ter saudades do Futuro pois o presente não augurava que houvesse um amanhã a viver harmonicamente com ele. Essa precoce nostalgia do passado presente fazia-me refugiar na noite, noite que a tinha como amiga, como aliada, sendo a amante que me acolhia sem perguntas, sem pretender saber quais outros meus ensejos que não fossem os que a cada momento faziam nela envolver-me. E nesses momentos de busca abria para mim os seus longos e viciantes braços para que neles vivesse e me aconchegasse, deixando que percorrece os encantos e recantos mais recônditos da sua feminilidade. Antes de me estirar vejo e admiro o crepúsculo tingido de tons raiados avermelhados/alaranjados como se um arco-íris de mil cores se tratasse a imergirem na imaginária linha do horizonte na exuberância do entardecer. Deito-me com esse belo quadro paisagístico a bailar-me nos olhos antevendo que a noite irá ser aluarada, de uma beleza reluzente e prateada que banhará Luanda em todo o seu esplendor. Acordo perto das 20H30 e sinto-me desperto, vivo, com desejo de ter que estar com alguém, de me envolver com a noite nocturna. Tomo mais um duche ligeiro com água fria para sacudir o torpor que invade o corpo enquanto trauteio "The Green Leaves Of Summer" dos »The Brothers Four«, canção que desde sempre apreciei. Lentamente visto-me ao mesmo tempo que mentalmente percorro o mapa de restaurantes e de snacks onde poderei ir jantar mas sem nenhuma preocupação de qual será pois sei que só no momento próprio o saberei. Dado o “estado de espírito” com que despertei sei que a noite irá ser longa, muito longa já que ...hoje quero estar só para poder estar acompanhado... Entro no meu Morris Mini Cooper de côr verde da 7up, companheiro de muitas e muitas andanças apesar de apenas o ter desde Julho, e arranco sem destino pré-definido. Percorro o que resta da rua Dr. João das Regras, entro na de Gil Vicente, depois Paiva Couceiro, viro para a Mouzinho de Albuquerque, circundo o jardim frente ao cemitério do Alto das Cruzes e paro no cimo do Eixo-Viário. Saio do carro e contemplo a cidade iluminada. O olhar extasia-se arrebatando-me o espírito como se sempre visse Luanda pela primeira vez e um sorriso de paz interior percorre todo o meu ser. Ao fundo vejo o Cine Kipaka, o Clube Ferroviário, a igreja da Nazaré, mais para a direita o terminal ferroviário do Bungo e, já a perder de vista, o inicio do Bairro da Boavista. É uma vasta área com pouca iluminação em autêntico contraste com todo o percurso do eixo-viário. Vislumbro ainda o Palácio de vidro e o porto de Luanda. Percorro o olhar e vejo na baía o reflectir dos tons luminosos e multicolores dos vários reclamos que espalham as suas tonalidades pelas águas calmas enquanto dezenas de automóveis lentamente circulam na marginal, assim como em ambos os sentidos da estrada da ilha, deixando um rasto luminoso como se de pirilampos de luzes tremulando se tratassem. Deixo-me estar um pouco mais inebriando-me com os cheiros que a terra liberta por acção do arrefecimento nocturno em choque térmico com o calor que durante o dia se fez sentir ao mesmo tempo que uma suave e refrescante brisa me acaricia o rosto fazendo-me sentir bem pelo bem-estar que me proporciona. Sinto-me o “senhor do mundo” por Luanda ser o meu mundo, eu a ela sentir pertencer e parte dela estar naquele momento a meus pés abrindo caminhos para que a percorra sem receios. Inspiro mais um pouco dos segredos que do ventre da terra se libertam entro no Morris e maquinalmente olho para o mostrador do meu ENICAR que, para além dos ponteiros, também indica o dia de semana e de mês e verifico serem cerca das 22H10. Percorro a Av. Mouzinho de Albuquerque até ao Quinaxixe, entro no Largo da "Maria da Fonte" contornando-o no sentido dos Combatentes e estaciono junto ao Apolo XI. Tal como já era previsivel só no momento próprio é que saberia qual o restaurante ou snack onde iria parar para jantar. Era um método não programado que já fazia parte da minha rotina de pensamento pois raramente idealizava um qualquer lugar antes de a ele chegar. O Apolo XI é um restaurante que também costumo frequentar antes de me iniciar na noite; tem bom ambiente, bom atendimento, é climatizado e iluminado q.b.. Vejo algum pessoal conhecido que acenam para na mesa deles me sentar mas faço sinal de que pretendo estar só. Peço um rosbife, prato padrão sempre que ao Apolo XI vou, e uma meia Casal Garcia bem fresca. Hoje não estou para a "minha" Nocal e um suculento e tenro rosbife é sempre agradável ser acompanhado com vinho branco bem fresco. Levanto o copo numa saudação aos presentes, conhecidos e desconhecidos, e “mergulho” literalmente os talheres no rosbife. Aprecio o sabor da carne no meu palato enquanto circundo o olhar pela sala que se encontra mais cheia que vazia. É um bom ponto de encontro para alguns jovens namorados, para outros que como eu também fazem do Apolo XI o seu ponto de partida para as várias etapas da noite, assim como para casais mais maduros que têm algum requinte na escolha de restaurante. Como sobremesa peço um S. Marcos, um semi-frio simplesmente divinal, e após o café recosto-me com prazer no espaldar da cadeira enquanto verifico que os meus conhecidos abandonam o local saudando-me com a palma da mão. Olho de novo para o relógio e os ponteiros mostram serem umas 23H20. Ainda é cedo e a noite verdadeiramente nocturna está no seu início. Peço a conta, pago e cá fora verifico a passagem de bastantes transeuntes, mais que o habitual para aquele lugar e aquela hora. Concluo que deveria ter terminado a sessão de cinema nos SMAE e momentaneamente entro em reflexão e a nostalgia apodera-se de mim remetendo-me para alguns anos atrás em que, juntamente com meus pais e irmãos, frequentava com bastante assiduidade os SMAE, quer como cinéfilo quer participando nos concursos do programa de entretenimento "Passatempo", programa que era conduzido por Rui Urbano e Fernanda Ferreirinha. Devido à essa frequente assiduidade meus pais, eu, e meus irmãos Mário e Alfa tínhamos-nos tornado sócios garantindo dessa forma a obtenção de outro estatuto que permitia termos sempre lugares disponíveis e bilhetes/sócios. Abano a cabeça como que a querer "sacudir" as recordações desses tempos idos e dirijo-me para o carro. Desço a Vasco da Gama e já na Mutamba estaciono por detrás da Fazenda Nacional. Quero andar um pouco para relaxar, ordenar ideias, para ver gente e sentir o pulsar da cidade. Lentamente percorro a Pereira Forjaz viro para o Quintas & Irmão observando mais quem está a ver as montras que eu por elas me interessar. No cruzamento da Rua Salvador Correia com a Calçada do Municipio e quase frente à Maria Armanda, um pronto-a-vestir, o reclamo do Hotel Globo ilumina a sua fachada principal enquanto viro para a esquerda, deparando, a meu lado direito, com a Pastelaria e Confeitaria Paris. Pausadamente continuo até ao largo do Palácio do Comércio, vejo alguns poucos passeantes junto ao estabelecimento de pronto-a-vestir Espelho da Moda e desisto de continuar. Retrocedo e os néons continuam firmemente e intensamente a espalharem a sua luminosidade multicolor em acréscimo à luz publica. Olho para dentro da Biker e verifico que as mesas dos jogos de bilhar estão quase todas ocupadas enquanto ao balcão meia dúzia de clientes refrescam as gargantas com o néctar dos bem tirados finos ou de canecas com cerveja. O Largo da Portugália apresenta uma população flutuante bastante assinalável para a hora que é pois já se está na primeira hora de sábado, dia de trabalho para bastantes deles e também pela circunstância de se estar perante a presença inibidora de alguns elementos pertencentes aos movimentos de libertação pese a verificação de algumas patrulhas do exército português. Estava-se na indefinição sobre o que poderia vir a ser o futuro de Angola e dos portugueses nela residentes. Dirijo-me para o carro através da Rua Sousa Coutinho e rumo para os lados do Sporting Clube de Luanda/Coqueiros. Já sei por onde começar a noite para estar acompanhado. Entro no “O Cortiço”, um bar americano que aprecio frequentar mas mais ao entardecer que à noite, e já dentro encontro o ambiente do costume; semi-penumbra, fumo até ao tecto e alguns clientes. Os sentados a serem “tentados” pela conversa das chamadas "alternadeiras" enquanto os em pé encostados ao balcão sorvem em pequenos goles uma bebida qualquer mas com olhar de lince “espetado” nalguma delas. O esquema é o habitual; se algum cliente dos que se sentam às mesas chama uma das profissionais para junto dele estar já sabe que para além de consumir é tentado a pagar-lhe uma ou outra bebida ou ainda a abrir uma garrafa de espumante ou whisky sendo, neste particular, a “comissão” dela bem mais interessante. As profissionais estão proibidas de beber da bebida do cliente e as que elas consigam obter são uns sumos ou uma espécie de chá que são pagos como se fossem bebidas de outra categoria. Depois há o “jogo do engate” mantido por elas até conseguirem o que pretendem do cliente, mais bebida(s) ou a tal garrafa de valor acrescentado. Os que se recusam a pagar alguma coisa é certo e sabido que a alternadeira não irá perder mais tempo com ele ... ""não paga, não tem direito a companhia"". O trabalho delas é, enquanto lá dentro, o de conseguirem fazer com que o cliente consuma o mais possível e dê a consumir. Qualquer outro “cenário” mais intimista é para fora de portas e depois do horário. Regra geral é um pouco difícil algum cliente ter um “programa extra” a não ser que se mostre bem endinheirado e, mesmo assim, sem ter a certeza de que irá ter essa “sorte”. É que a maioria delas têm os "seus controladores" mas cheirando a bom dinheiro os "protectores" não se importam que elas possam com outros sair tanto mais que irão usufruir mais tarde do "rendimento extra" por ela conseguido. A musica ambiente proporciona que alguns casais dancem numa pequena pista e enquanto eles segredam algo aos seus ouvidos elas riem de forma provocatória e com olhar malicioso em que prometem o paraiso na terra. Tudo, ou quase tudo, vale para “ajudar” a depenar o folgazão no máximo que cada uma possa. Encostado ao balcão, uma das minhas características, peço a habitual “cuba libré” [uma outra bebida preferida nestes ambientes é o “gin tónico”] e observo todo o cenário procurando vislumbrar alguma com quem possa trocar alguns sinais "tipo morse". Há também este tipo de esquema em que um cliente pode “combinar” um encontro para depois da saída sem ter que se sentar ou ter que pagar algum copo mas sem que o responsavel da sala se aperceba. Para que a “empatia” resulte é necessário que ela fique “agradada” por aquilo que potencia ter visto no cliente. Regra geral quando acontece acontecer este tipo de “sinais empáticos” ela vai mais por ter "engraçado" com o cliente e do que pensa obter dele pelo contacto físico que pelo usufruto monetário, embora, como é obvio, este seja a realidade primeira. Embora a muitos homens possa custar a admitir, no campo da concretização dos desejos é sempre a mulher quem decide. Só há contacto se ela quiser, seja porque motivo, a não ser que exista algum tipo de coacção física ou psicológica por parte do homem. Pessoalmente sempre admiti esse pensamento filosófico de que "elas é que decidem" e nunca me desiludi pois obtive sempre (quase) o que pretendia. Nessa adaptação às regras e dando a entender-lhes que elas é que “decidiam” acabava por ditar as regras do jogo e quem acabava sempre por decidir era eu. A regra mais predominante era aperceber-me que elas queriam e nesse caso eu só tinha que fazer simplesmente o papel do “não quero”. A tal estória do fruto não conseguido ser o mais apetecido mas que na noite nocturna dá para ser "jogado" pelos dois géneros e não apenas pela parte feminina. Este jogo do "não" requer algum andamento e experiência nocturna e essencialmente saber fazer muito bem o “bluff”. Embora novo, tenho apenas 23 anos, sei como o fazer e como o "rentabilizar" em proveito próprio. No mundo da noite é preciso saber nele andar e como andar. É um pouco complexo e por vezes um pequeno descuido pode ocasionar grande "maka", chamada da policia e proibição de entrada em estabelecimentos para o(s) prevaricador(es). Para além de tudo há também os clientes que se "embeiçam" e se a que deseja não lhe dá “esperanças de saída” mas ele verificando que há existência de sinais ou outros truques de um outro e que ela corresponde, o mais certo é estarem criadas as condições para a situação descambar. Nada de interessante vejo embora tivesse reparado no olhar mais “incisivo e interrogativo” que uma “já conhecida” me tinha lançado. Envia-me um sinal de "se a procuro" obrigando-me a responder com um trejeito de boca e olhos de que apenas fui beber um copo, passar um pouco do tempo e nada mais. Percebeu, fez um sinal de resignação género de "as noites já não são como eram" e senta-se. Pouco depois verificando a não existência de alguém que me faça estar lá mais tempo saio daquele ambiente asfixiante de fumo e de já não interesse. Cá fora respiro profundamente para oxigenar os pulmões e procuro arejar a roupa para que algum cheiro do tabaco entranhado se liberte. [continua]
Comments:
Uma incursão agora pela noite dentro, dos cantos e recantos da 'nossa' Luanda.
Locais que fazem parte das memórias de muitos mas que aqui não tem sido avivadas. Continua 'cavaleiro solitário' que em cada virar de esquina há sempre uma 'garina' que espera pelo teu recordar. Bons tempos em que, bebericando um 'gin' tónico, sentia como tu, o despertar da noite. Abraços!
O meu nome e Fernando Bernardino da Silva e desde 1967 a 1974 trabalhei no quintas e irmão. Estudei no salvador correia e mais tarde na escola Vicente Ferreira. Gostei do seu blog . Tenho tentado encontrar um colega que trabalhava para o quintas, mas em Nova Lisboa de nome walter correia. Ela cantava e julgo que ainda fez parte de um grupo os zorbas.
Enviar um comentário
Desde já o meu obrigado Ferdy,bernard@gmail.com << Home |