quinta-feira, 16 de outubro de 2008

 

Adeus ... AMIGA


** Claude Ciari - Romance **


Não era este o tema que hoje quereria escrever.
O Relembrar de hoje era destinado a um amigo, a um condiscípulo do 1º ano, a um Bom Amigo.
Mas a vontade do Homem pode, por vezes, não ser a vontade da Vida.
E a Vida é a Existência que antecede a Morte.

Hoje este tema é Dedicado a uma AMIGA do Outro Lado do Tempo.
Que hoje Faleceu. Que hoje deixou-me mais só, mais nostálgico, mais triste.

Chamava-se Celeste … Lete para os amigos



Constituíamos um Grupo formidável. Um grupo Amigo, de convivências sadias, de companheirismo a todo o terreno. Todos enquadrados nas idades uns dos outros.
As garinas da Textang/Boavista e os boys do Bairro de S.Paulo.

Eu e os manos Mário e Alfa e o amigo Tonito. Anos mais tarde eu e Alfa.
Depois dos boys fiquei apenas eu e apareceu o Licínio, um pretendente, mas que não era do bairro.
Lete e a irmã gémea Irene, Lili e mana Branquinha. Mais tarde, já quando era o último resistente dos boys, “entra” a Eduarda para o novo grupo surgido, quase ao mesmo tempo que Licínio.

Frequentávamos as farras do Ferrovia, do Transmontano, as matines dançantes do Tropical. Viamos filmes no Kipaka e o Chá das Seis no Restauração.
Íamos aos bailes e passagens de modelos na Textang.

Estendíamos os corpos nas areias quentes das praias de S. Jorge e Restinga e mergulhávamos com alegria naquelas águas tépidas do Atlântico.

** o último grupo a ser constituído - Praia S. Jorge/Março 1970 **


Tinhamos saídas até à Barra do Quanza e passeávamos como namorados pelo Parque Heróis de Chaves.

Foi assim o nosso convívio, a nossa Amizade. Durante alguns e bons anos.
Éramos amigos/namorados/amigos. Pode parecer difícil de entender, mas não é.
Éramos amigos, portávamos por vezes como namorados, mas pura e simplesmente fomos apenas amigos. Confesso que por vezes era difícil distinguirmos uma situação da outra.
Havia muita cumplicidade nos gestos, nos olhares, mas de repente, um riso mais espontâneo fazia-nos regressar à realidade da Amizade.

A Lete era a Rainha da Felicidade, da Alegria de Viver, da Boa Disposição, do Riso sadio e estonteante. Era a Alma perfeita do Grupo. Contagiava-nos com a sua forma de ser, de estar. A seu lado ninguém estava ou podia manter-se triste. Era o Sol, era a Luz, era a Lua, era a Natureza pura.
Estava sempre com disposição para dançar, e se dançava. Se pudesse teria morrido a dançar.
Continuamente as canções mais alegres e em voga saiam das suas cordas vocais e todos a acompanhávamos. Era, como o disse, a Alma do Grupo.

Quantas e quantas vezes a fui esperar à Cabeleireira Ana Bolena, na Avª dos Restauradores de Angola, onde trabalhava. E depois acompanhava-a até ao Largo Bressane Leite onde apanhava o autocarro da Linha 6/Boavista. Vezes sem conta a acompanhei no “seu” autocarro até casa.
Era o tal imbróglio a funcionar … namorado ou amigo!?

Sempre soube “ocultar” as muitas tristezas que a Vida lhe colocou pelo caminho. E eu sei, pois nos últimos anos, de uma ou outra forma estive a seu lado.
E quando recentemente tinha sido pela primeira vez avó. O quanto sei como andava contente, feliz. Foi curtíssima essa condição de avó. Não teve tempo suficiente para mimar e dar carinhos à netinha.
A Morte roubou-lhe essa ligação, esse novo sentir.

Até um dia querida Amiga Lete.
Um até sempre de todos nós. Os do Grupo dos boys de S. Paulo e da mana Faty.
Amanhã acompanhar-te-ei na tua última viagem terrena.


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Esta foi a mensagem de dor sentida que deixei escrita no dia 16 de Agosto 2008 e que senti necessidade física e espiritual de a compartilhar com alguém mais.

Hoje, dia 16 de Outubro, faz 2 meses que a Lete faleceu. Depois de a ter reencontrado e de ter com ela convivido até ao seu desaparecimento terreno.

Se não tivesse acontecido o desaparecimento do blog na anterior plataforma, este acréscimo não teria sido escrito.
Mas como aconteceu, sinto o desejo de neste dia dizer-vos qual o seu último desejo e assim ficarem com a confirmação do seu carácter, da sua sensibilidade perante a Vida e da sua certeza após a Morte.

Que fosse cremada e que parte das suas cinzas, pertencentes à Natureza Humana, fossem espalhadas à brisa do Vento, à Natureza Natura.
Natureza que ela sempre personificou, que ela sempre amou.
Desejo que naturalmente foi cumprido.

Hoje o dia foi de Sol
hoje a sua Luz foi mais intensa.

Hoje o Vento ficou quedo
hoje a Natureza não ventou.

Hoje a Lua será mais brilhante
hoje as Nuvens não a ocultarão.

Hoje os Deuses do Olimpo
não deixaram a Chuva cair.

Hoje para sempre se foi,
em pó seu corpo se tornou
e à Natureza lançado, pois Ela
fazia parte da Natureza.

Hoje não choveu

Hoje só o Homem chorou!


**Este tema está encerrado a comentários, pois tudo quanto desejaram transmitir fizeram-no nas intervenções nos dias seguintes ao do conhecimento deste meu lamento, desta minha profunda amargura.
**Já o tinha feito nos comentários desaparecidos. Mas agora e através desta página, agradeço as palavras de conforto, de solidariedade, de companheirismo, de amizade que me enviaram.

Até Sempre ... AMIGA