terça-feira, 11 de novembro de 2008

 

Independência ... Foi há 33 Anos [ parte I ]


** Manuel Faria – O Povo no Poder **


Segunda-Feira, 10 Novembro 1975, 24H00’00’’ … Luanda, capital da Província de Angola.

Terça-Feira, 11 Novembro 1975, 00H00’01” … Luanda, capital da Republica Popular de Angola.

Hoje, de novo Terça-Feira, 11 Novembro 2008 … Angola 33 Anos de Independência.

Local da proclamação popular da independência de Angola:» Largo 1º de Maio (**),depois denominado de Praça da Independência.

(**)para quem não se possa lembrar, o largo 1º de Maio ficava entre o Liceu Feminino, a Escola Industrial e Escola Comercial Vicente Ferreira, ou seja no cruzamento da D. João II, com a Rua Sidónio Pais que prosseguia como Estrada de Catete
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Bairro de Vila Clotilde, Rua D. António Saldanha da Gama, 5º andar do prédio da D. Amália que tinha, entre outros, alguns interesses económicos na Estrada da Brigada.
Do alto desse 5º andar, onde vivia desde Agosto 75, pouco depois de ter casado, assisti entre o fim do dia 10 e o inicio do dia 11, ouvindo mais que vendo, já que o meu campo visual era algo longínquo do local, à cerimónia popular da proclamação da Independência de Angola como Estado Soberano e entregue aos seus Novos Destinos.

“Discurso da Proclamação”
** clicar para ver e ouvir o discurso de Agostinho Neto **


Na tarde do dia 10 tinham saído as últimas tropas portuguesas … sem honra, sem glória, deixando para trás os portugueses entregues à sua sorte e um país imerso num gigantesco banho de sangue e de morte fratricida devido à acção armada das forças do MPLA (FAPLA), da FNLA (ELNA) e da UNITA (FALA), que desde há vários meses estavam envolvidas numa guerra feroz, sem tréguas e sem regras, pelo controlo de Luanda, tendo em vista a tomada do poder político para que no dia 11 de Novembro pudesse, uma delas, unilateralmente, proclamar a independência do novo país a surgir. Cada palmo de terreno era um ganho ou uma perca para cada uma das forças beligerantes.

Luanda/Angola estavam a ferro e fogo meses antes do dia da independência e a bandeira portuguesa hasteada “olhava” indiferente e sem qualquer tipo de reacção eficaz ao massacre de inocentes populações civis, entre eles muitos portugueses.
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A UNITA e a FNLA entraram em Luanda em Junho/Julho de 74, enquanto o MPLA só o fez em Novembro desse ano. Agostinho Neto e quadros superiores entraram em Luanda em Fevereiro de 1975.

Cedo se começou a perceber que os movimentos muito dificilmente teriam um caminhar conjunto e uno até à independência. Tinham comportamentos, filosofias políticas e discursos diferentes. E também os longos anos em que nas matas se guerrearam entre si não permitiria que esses ódios fossem “esquecidos” tão facilmente.



Sempre se soube que a FNLA tinha apoio directo de Mobutu e das tropas zairenses, tanto que se chamava aos ELNAs “zairotas”, por raramente se encontrar um que soubesse falar português, já que “quase” todos falavam congolês e/ou francês. Como em tudo existem as excepções, por isso mesmo escrevi “quase”. Também eram chamados de “fenelas”. Era um movimento marcadamente não apoiado pela população angolana residente em Luanda.



A UNITA, tendo sido um movimento praticamente “protegido e mantido” pelo exercito português, revelou ser tribalista, regionalista, divisionista e de alguma forma racista. Mas aqui verificou-se o paradoxo da questão. Foi o movimento mais entusiasticamente aplaudido pela população branca aquando da entrada em Luanda, com largos milhares de portugueses a ocuparem quilómetros de asfalto na sua chegada apoteótica. Confesso que nunca percebi aquela espécie de “histeria” colectiva. Também foi um movimento sem expressão no apoio da população angolana residente em Luanda.



O MPLA era o movimento genuinamente angolano. Os seus quadros eram figuras ilustres da vida angolana, do mundo contemporâneo, com ligações bem fortes ao povo angolano e a uma determinada elite vanguardista portuguesa. Poderei até dizer que o MPLA tinha quadros a “mais” e guerrilheiros a “menos”, tanto que nas matas seria o movimento mais enfraquecido, menos bem equipado e de já reduzida dimensão quando do 25 de Abril 1974. Por alguma razão foi o último a entrar em Luanda. Teve, quanto a mim, necessidade de chamar, preparar e agrupar para as fileiras das FAPLA, angolanos até aí fora da guerrilha.
A sua ligação ao povo era genuína e, por essa razão, dizia-se, na altura, "que o MPLA é a vanguarda do Povo, sendo por isso iguais".

Quando Agostinho Neto entrou em Luanda foi recebido numa total loucura por parte do genuíno povo angolano. Se eu tinha ficado perplexo pela forma como a Unita foi recebida, não me surpreendeu os milhares de milhares de angolanos a aclamarem e a vitoriarem Agostinho Neto e o MPLA. Apesar de tudo nunca pensei ver aquela apoteótica recepção. Simplesmente um oceano de gente, de povo angolano, de povo anónimo.
Daí o facto da independência ter sido proclamada junto e com o povo angolano.



[continua]