sábado, 11 de abril de 2009

 

Juventude Operária Católica


»»Clicar para Tocar««
** Jean F. Michael – Adieu Jolie Candy **


Continuando a “abrir” o baú das recordações, aqui relembro mais um dos muitos caminhos das minhas vivências.

Juventude Operária Católica


Neste “caminho” teria talvez uns 13 anos, portanto em 1964 e vivia na Rua do Vereador Prazeres, no meu eterno Bairro de S.Paulo.
Não me recordo de como é que fui parar à "J.O.C.", que funcionava no espaço Igreja/Missão de S.Paulo. Apenas sei que não foi pela existência do núcleo de escuteiros, pois nunca estive ao escutismo ligado. Já agora, também nunca andei na Mocidade Portuguesa. Mas se tivesse andado na M.P. não teria algum problema em o afirmar, ao contrário de muitos que por lá andaram garbosamente vestidos e desfilaram a cantar o Hino da Mocidade, mas anos volvidos e após o famigerado 25 de Abril negaram essa sua passagem por aquele braço juvenil do regime de Salazar.
Mas isso são outras estórias.

** Igreja de S. Paulo onde mais tarde me casei **


Voltando à “J.O.C.”, lembro-me que era um movimento de jovens que incutidos do ideal católico procuravam saber junto da comunidade envolvente os vários aspectos na vertente social, laboral, académica e outros, e assim obter testemunhos reais das desigualdades encontradas, fazendo denúncia dessas situações através da elaboração de relatórios que eram dados a conhecer nas reuniões na Missão, coordenadas pelos padres capuchinhos. Para além das denúncias apresentadas nos relatórios, obtidas através de inquéritos junto das famílias visitadas, os grupos de acção dos jovens procuravam nas reuniões realçar o factor humano como sendo o mais imperioso na busca de uma solução, a fim de ser obtida uma decisão mais premente no apoio a determinada família que apresentasse uma estrutura familiar de condições mais degradantes.
E muitas havia, infelizmente.

Entre os nossos mentores os mais populares eram o capuchinho Samuel, mais a sua “barrigona” e o padre Luís com as suas longas barbas e a Vespa da moda como transporte. Aliás, por norma todos os padres capuchinhos usavam barba. Também havia o padre Paulo, a irmã Celeste, a única de que me lembro, talvez por andar a “dar” a catequese às meninas, pois a Missão também tinha uma área destinada às freiras. O padre Luís era tido como sendo “malandreco” por procurar obter, através da confissão, o conhecimento de situações mais intimistas das garinas que se confessavam. E também por tirar a batina sempre que necessário pois, segundo dizia, também era homem e como homem tinha que se fazer à vida.

** para ampliar clicar na imagem **
** Padre Samuel **


A grande dificuldade da “J.O.C./Missão” era não ter recursos financeiros suficientes que ajudassem, nalguns dos casos encontrados, a solucionar algumas situações que só através dessa via poderiam ser minimizadas. Eram assim feitos peditórios “especiais” nas missas e os “Jocistas” vendiam à saída das missas um jornal de cariz católico/social [penso que se chamava “A Flauta”].
Na “J.O.C.” faziam-se projecções de filmes, serões musicais, teatro amador e outros artifícios a fim de se obter alguma receita, com a única finalidade de ajudar a comunidade.
Um dos aspectos que me marcou de forma positiva e que contribuiu para a minha formação de vida, foi procurar-se incentivar a entreajuda na coisa comum às famílias, vizinhos e amigos, fazendo com que através do conhecimento e na discussão do assunto eles próprios encontrassem também as suas próprias soluções para os problemas envolventes.
Era um movimento de jovens bastante interessante, dinâmico e apelativo, fazendo com que os envolvidos no projecto se tornassem “adultos” na missão que para o terreno levavam e procuravam ajudar a resolver.

Também os meus manos Mário e Alfa, assim como amigos do bairro, andaram na “J.O.C.”. De certa forma a juventude alinhava na causa. Segundo Mario fui eu que para lá o encaminhei e, por sua vez, foi ele o “responsável” pela ida do mano Alfa. Pertencíamos a grupos diferentes por ainda sermos muito kandengues.


** clicar para ampliar **
** Jardim do Miramar/68. Os manos **


Bom, este meu relembrar a “J.O.C.”, apesar de nobre, não estaria completo se não houvesse uma estória comigo passada para o tema “ganhar” outra amplitude. Como acima menciono na altura teria uns 13 anos e estava, por conseguinte, na “idade da pura inocência”. Para reforçar esta “tese” da inocência, eu nasci no “Dia dos Santos Inocentes”.

Então aí vai a estória

Como os que lá andaram sabem e também acima refiro, eram organizados pequenos grupos de “Jocistas” para contactarem o meio envolvente. Esses grupos eram constituídos por rapazes e raparigas, uns mistos, outros não. Um dia, numa das reuniões, um grupo leu o relatório daquilo que viu e constatou no Bairro Operário.
Que a falta de condições sociais, laborais e financeiras do meio originava o aparecimento de cada vez mais jovens de menor idade a prostituírem-se; que a falta de conhecimentos e de informação de como se “protegerem” nessa actividade sexual aumentava a propagação de doenças venéreas, correndo o risco de se tornarem um sério perigo de doenças sexualmente transmissíveis, etc., etc.
Prostituição para a frente, prostitutas para trás, e no fim da leitura o grupo teceu algumas considerações (o tal factor humano e de sensibilidade) sobre o levantamento efectuado e o que fazer, no seu entender.

Os grupos liam primeiro os relatórios e depois os mentores davam ou procuravam encontrar respostas e soluções para cada um dos casos relatados. Quando se ia passar a outro grupo levantei a mão e um pouco encabulado, devido a ainda ser um kandengue em crescimento, penso que "vermelho" até à raiz dos cabelos, que eram loiros como o Sol, perguntei o que era isso de prostituição e prostitutas, pois tinha ouvido tudo e não sabia bem o que estava a ser dito, ou seja, o que aquelas palavras significavam. Santa inocência a minha.

** clicar para ampliar **
** no interior da Igreja de S.Paulo **
Helena, Tony, Alfa, Jorginho, Marius70 e Faty


O que se seguiu foi digno de um bom filme hilariante. Uns boys ficaram de olhar "esgazeado", outros riram-se a "bandeiras despregadas” e os demais parece ter-lhes dado um ataque de paralisia facial :-)). As garinas olharam para o chão “envergonhadas”, outras taparam a boca com a mão (gesto muito característico das mulheres) e algumas sorriram. Foi um pagode “pegado” como se eu com 13 anos tivesse que saber tudo quanto os mais velhos diziam.
E eu "perdido" no meio daquele “filme” sem perceber a razão de tal “burburinho” estridente.

O mentor pôs cobro a todo aquele “alvoroço” e explicou-me o sentido e o significado das palavras. Quem depois ficou parvo fui eu, pois já sabia daquela actividade e o nome dado a quem a ela se dedicava/sujeitava, mas conhecia-as pelos nomes "puros", de calão autêntico. Ainda não era “erudito” naquela linguagem de relatório. O mais engraçado, depois das explicações dadas, é que eu sabia que outros que ajudaram ao “pagode do riso” também desconheciam a linguagem ouvida, mas como eu tive a “coragem” de fazer a pergunta passaram por terem percebido o que tinham estado a ouvir.

E lá continuei na “J.O.C.” até dela sair
***********************************************

Como sabem há temas que estou a repor nesta plataforma, deslocalizando-os de uma outra que de vez em quando manda todos os blogs para o “limbo do esquecimento”. Mais uma vez aconteceu esta semana, sendo desrespeitado todo o esforço e dedicação que centenas de blogueiros empenharam aos seus blogs através de milhares de horas de escrita e pesquisas diversas.
Depois ainda dizem para se “consumir” produto português. A plataforma em questão é a Simplesnet.pt
Tudo isto apenas para dizer que alguns temas estão a ser reajustados, sendo assim beneficiados por um ou outro comentário inserto anteriormente. O tema presente não fugiu a esse benefício. Não me lembrava de como tinha ido parar à "J.O.C.", assim como também quais as causas que me teriam levado a sair. Pois bem, no seu comentário a este tema, na tal outra plataforma o meu mano Mário escreveu que eu fui para a “J.O.C.” por lá haver matraquilhos de borla. E esta hein!
E que saí por num qualquer Domingo irmos, eu e ele, para a porta da igreja de S.Paulo vender o tal jornal da Missão. Que olhamos um para o outro e sem precisarmos de falar, pois o nosso olhar estava a dizer tudo, pareceu-nos que a nossa missão na “J.O.C.” ía terminar naquele Domingo com aqueles jornais..

Por certo que já tínhamos cumprido anteriormente aquela tarefa mas naquele Domingo foi o dia final.
E desse modo prático saímos os dois da “J.O.C.".
***********************************************

Relembrando a minha passagem pela “J.O.C.", encerro mais uma estória das minhas vivências.
A todos quantos passem pelo blog e leiam o tema, mas em particular para os que tenham andado na Juventude Operária Católica “J.O.C.”, as minhas

Saudações e Inté



Comments:
Olá mano

Nesta tua reposição de temas já colocados noutro local que, como bem o dizes, sem respeito pela dedicação e empenho de todos nós, mais uma vez volatilizou-se do éter deixando centenas, quiçá milhares, sem os seus blogues que com tanto carinho e dedicação deram muito do seu tempo. Como aconteceu com o Sapo, para mim a Simplesnet "morreu". Paz à sua "alma".

Sobre este teu tema.

Falar da J.O.C. é falar um pouco mais das nossas vivências. Para quem, como nós, começou a trabalhar cedo podemos dizer que não foi por isso que deixamos de fazer parte de uma comunidade através deste organismo da Juventude Operária Católica.

Realmente o início foi o facto de se poder jogar aos matraquilhos de borla e, como eu referi, a bola era sempre a mesma, preta como breu, mas era através de um pequeno nada que se fazia com que a Juventude se interessasse pelos problemas da comunidade e foi isso que fizemos durante uns tempos, participando nas reuniões, dando o nossa opinião e ouvindo as opiniões dos outros. É o dar e o receber. Daí penso que muito daquilo que hoje somos, deve-se à nossa conduta de saber ouvir e saber opinar. Outra razão é fazermos as coisas com paixão.

Nada para nós está completo sem que a gente verifique que está mesmo completo. Enquanto assim não é, não nos desligámos do projecto a não ser por motivos de força maior.

A J.O.C. foi uma passagem por um mundo de companheirismo, mesmo sabendo que ao lado estava a L.O.C. das raparigas, não deixávamos de participar nas reuniões, a excepção foi quando quiseram que fossemos vender jornais para a entrada da Igreja de S. Paulo. Penso que se fosse para dar, nunca tínhamos de lá saído, mas para vender não podiam contar connosco. E assim, olhos nos olhos sem ter sido necessário dizer nada um ao outro, abandonámos a J.O.C..

Fazes aqui uma referência ao Padre Luís e ele procurar saber, através da confissão, algo mais sobre possíveis "aventuras" sexuais das garinas.

Não era só com as garinas que ele procurava extorquir informações dessas, também se passou comigo!

O Padre Luís dentro do confessionário, eu, marius, ajoelhei-me para me confessar, teria aí 12, 13 anos. Como os "pecados" nessa altura eram poucos não havia muito a dizer. Padre Luís perante o meu silêncio prolongado pergunta:

«Já alguma vez fizeste asneiras com a pilinha?»

Apanhei um choque pois não são perguntas que se façam a um candengue de tão pouca idade.

Já não me lembro o que disse, mas foi a última vez que me confessei!

Um abraço Mano!
 
Há o malandro do padre Luis
e pobre de ti Márius, imagino como fikas-te,eu tive uma passagem idêntica não com ele, mas com outro e foi a última vez, nunca mais me ajoelhei aos pés de um padre. Mas do Padre Luis ele era malandro, era, mas fazer uma pergunta desses a um menino, por favor.............
Deixa lá coisas da vida, e do mundo. Mas voces os manos, hoje são homens dignos e de valor.Por isso tudo valeu a pena. Um beijão para os manos.

Lameking
 
Numa foto , de amigos ,da Rua do Lobito , e colocada no Facebook,existe um que se chamava Silva ,e ,andava de Floret.........será ,que o conhecias ?,e ,estará vivo.Ele era Jocista em S. Paulo(anos 69/71)
 
Caro anónimo,

seria interessante saber quem é o "anónimo" foi o blog permite colocar essa informação. Quanto à questão só vendo a tal foto do facebook é que poderei dar alguma resposta pois naquele tempo o que menos faltavam eram jovens da m/idade andarem de Floret. Tendo eu vivido entre 1966/7 a 1974 na Rua do Lobito é bem provavel que possa saber quem era o Silva mas preciso de mais dados como, por exemplo, a tal referida foto.
Kandandus
 
Enviar um comentário



<< Home