quarta-feira, 30 de novembro de 2011

 

“Maria da Fonte” «» [II/III]


** Duo Ouro Negro »« Amanhã **


Historiando “o porquê da existência”


A fim de perpetuar para memória futura o feito alcançado pelos soldados das forças expedicionárias portuguesas e das forças da província mortos na defesa de Angola no decurso da Primeira Grande Guerra Mundial, a Comissão dos Padrões da Grande Guerra com a contribuição do Comércio e Industria de Luanda, que teve em Alves da Cunha o maior dinamizador dessa campanha, decidiu iniciar o processo de construção da “coisa publica”; um monumento a ser edificado num local amplo e de relevância da cidade de Luanda, a capital de Angola. O projecto foi entregue ao escultor Henrique Moreira que lhe deu “vida”, sendo composto por um majestoso e imponente pedestal de granito que simbolizava o altar votivo da Pátria e apresentava um conjunto de soldados portugueses e angolanos que rodeavam a Vitória, uma figura alegórica feminina. O monumento era uma grandiosa e extraordinária obra de arte arquitectónica inestimável, de raro valor artístico e escultural, evocativo da acção conjunta das forças de Portugal e de Angola contra o invasor externo.

** Monumento aos Mortos da Primeira Grande Guerra Mundial **


…[””nas pesquisas verifiquei o registo de duas datas para a inauguração; uma em 1935 e outra em 1937. Por a de 1937 ter “aparecido” em duas descrições irei ter em consideração este ultimo ano””]...

Assim num dia e mês de 1937 foi inaugurado, com a presença de autoridades civis, militares e eclesiásticas, assim como da população anónima, o “Monumento aos Mortos da Primeira Grande Guerra Mundial”, evocativo dos soldados mortos durante as campanhas militares africanas de 1914 a 1918 na luta contra o invasor alemão. O local designado para a colocação do monumento foi numa das margens da lagoa do Quinaxixe, lagoa existente na época, local esse que tinha o nome toponímico de Largo dos Lusíadas. Segundo registos terão estado presentes na inauguração, entre outros, o almirante Afonso Júlio de Cerqueira que participou em 1915 na campanha do Sul de Angola ao comandar o Batalhão de Marinha e Marcelo Caetano, na data um jovem professor de direito que estaria a chefiar uma missão de estudantes metropolitanos. Anos mais tarde, em Setembro 1968, foi este nomeado presidente do conselho de ministros dada a impossibilidade de Salazar poder governar o país. Após a revolução de 25 de Abril 1974 foi Marcelo Caetano destituído de todos os cargos e exilado para o Brasil, onde viria a falecer em Outubro de 1980.

** Inauguração do Monumento aos Mortos da Primeira Grande Guerra Mundial **


“as razões de incorrecções”

*) Durante muitos e bastantes anos quase todos sempre referiam e referíamos aquele monumento como “Maria da Fonte”. Era uma designação que ia passando de geração para geração sem que muitos de nós entendessem questionar o porquê de “Maria da Fonte”. Era assim e assim foi por quase todos assimilado como podendo ser o nome correcto. Havendo no entanto alguns que sabiam que aquele era o Monumento aos Mortos da Primeira Grande Guerra não se coibiam de o tratar por “Maria da Fonte”. Era um nome popularizado e não haveria razão alguma para que não o “tratassem” como tal, como ponto de referência geográfico.
Assim o monumento a que erradamente se chamava de “Maria da Fonte” não era mais que o Monumento aos Mortos da Primeira Grande Guerra Mundial.

**) O largo que quase todos sempre chamaram e chamávamos de “Largo da Maria da Fonte” tinha por simbologia o erro do monumento à “Maria da Fonte” ou quando chamado de “Largo do Quinaxixe” era a conotação com o nome do próprio Mercado do Quinaxixe, no largo existente. Continuando a haver os que sabiam que aquele largo tinha o nome topónimo de Largo dos Lusíadas enveredavam no entanto pelo nome popular, pelas mesmas razões verificadas para com o “Maria da Fonte”.
Assim o “Largo da Maria da Fonte” ou “Largo do Quinaxixe” chamava-se realmente Largo dos Lusíadas, largo que na data já era o coração nevrálgico da cidade, onde se ramificavam as artérias principais que conduziam todo o pulsar de uma capital ainda em embrião, mas já digno e dignificante para o monumento a ser erigido.

** pormenores do “crescimento” do Largo **


Historiando “quem foi quem ou o quê”


(*) A existência da lagoa do Quinaxixe não foi obra da Natureza. Dada a escassez de água na cidade a referida lagoa, que ficava por detrás do edifício dos Serviços de Agricultura, fora mandada abrir pelos antigos frades do Carmo para receber as águas da chuva, água essa que se destinava ao seu gado vacum que tinham nos seus currais, perto daquele sítio, »”conforme informa José Pontes Pereira em artigo publicado no Jornal de Luanda de 27/1/1879”«.
Registava-se no entanto, já naqueles anos, o problema da falta de água em Luanda, problema que se ia agravando à medida que aumentava a população originando que a água fosse insuficiente para dar solução a todos (famílias, comércio, industria e agricultura), que dela necessitavam para os diversos fins. A situação apresentava-se angustiante dado que essa insuficiência originava a subida do seu custo para preços demasiado exorbitantes. A fim de melhorar a problemática existente a Câmara, no seu relatório de 2 de Janeiro de 1886, propôs a seguinte solução: »…”finalmente, porque a calçada a construir [que partiria do Bungo] vai entroncar no aqueduto da estrada do Cacuaco, fixando o mesmo aqueduto, para obrigar as águas pluviais, que, pelo declive, vem hoje para o Bungo a passarem todas para a lagoa de Quinaxixe, a qual, em anos de chuva, receberá água para alimentar a cidade toda para mais de um ano, depois de limpa e rodeada com um pequeno muro”…«.
Somente em princípios de 1886, ao celebrar-se o contrato entre o Governo e Alexandre Peres para o «”abastecimento de Luanda dentro dum prazo de três anos com águas do rio Bengo, tomadas em Quifangondo ou nas suas imediações”», o assunto veio a ser encarado com carácter definitivo.
Durante os anos 50 do século XX a lagoa terá sido assoreada por já inútil a sua existência.

(**) Maria da Fonte ou Revolução do Minho foi o nome dado a uma revolta popular ocorrida na primavera de 1846 contra o governo cartista presidido por António Bernardo da Costa Cabral.
Iniciou-se na zona de Póvoa de Lanhoso (Minho) por uma sublevação popular que se foi progressivamente estendendo a todo o norte de Portugal. A instigadora dos motins iniciais terá sido uma mulher do povo chamada Maria, natural da freguesia de Fontarcada, que por isso ficaria conhecida pela alcunha de Maria da Fonte. Como a fase inicial do movimento insurreccional teve uma forte componente feminina, acabou por ser esse o nome dado à revolta.

(***) Mercado do Quinaxixe assim “baptizado” por anterior existência da lagoa de igual nome. Grande mercado totalmente coberto e construído entre 1950 a 1952, obra de autoria do arquitecto Vasco Vieira da Costa, tendo sido uma obra das mais emblemáticas da arquitectura existente em Angola. Edifício de grande porte e precisa enunciação racionalista, fazendo uso de brisessoleil, pilotis e betão aparente e uma admirável clareza espacial. Segundo revistas da especialidade era tida como uma das mais importantes efectuadas pelos portugueses durante o século XX sendo o único edifício de Angola referenciado no livro “Arquitecturas do Mundo”.

** contrastes de uma década em crescimento **


[continua]




segunda-feira, 21 de novembro de 2011

 

“Maria da Fonte” «» [I/III]


** Carlos Lamartine »« Ene **


Embora não seja esse o meu propósito, considerando que quem tem a obrigação de historiar os diversos factos e feitos sejam eles que de natureza forem e que realmente tenham conteúdo e valor histórico serão os historiadores, também penso que ao escrever alguns momentos das minhas vivências e ambiências terei o “dever” de nalguns desses temas alargar o âmbito dessas minhas estórias procurando historiá-las.
Essa vai ser a minha intenção para o presente tema. Creio que o momento que pretendo relembrar tem necessidade de uma lógica sequencial para não ficar apenas pelo momento em si. Assim irei procurar historiar, de forma resumida mas entendível, ”o antes”, o "porquê da existência", as "razões" de algumas incorrecções [que procurarei corrigir], "quem foi quem ou o quê", para finalmente chegar ao momento que é a verdadeira essência do que me fez escrever o tema em apreço. Completarei por fim o ciclo descrevendo-o até ao momento em que a “coisa publica” deixou de existir.
Será o tal percurso histórico que fará compreender e até dar a conhecer as várias etapas dessa “coisa publica” que pretendo relembrar. Poderei afirmar que pessoalmente fiquei muito mais “enriquecido” com os conhecimentos que adquiri ao ter pesquisado e consultado tudo quanto as novas estradas de comunicação tecnológica “a galáxia Virtualis” me propiciaram. Considero como satisfatório o resultado final alcançado tendo em atenção o objectivo principal do tema.
É obvio que sendo eu o agora narrador sintetizei a informação recolhida dando-lhe o meu cunho e enquadramento pessoal, mas sem desvirtuamento histórico do que fui compilando. Com tudo isto não pretendo fazer história, até porque não estou vocacionado para isso, mas apenas dar estampa neste “Reviver Estórias” dos factos históricos que precederam a existência da chamada “coisa publica” até ao momento do seu “esquartejamento” e das mutações tidas até ao seu desaparecimento total.

** clicar para ampliar **
** com meus irmãos no Monumento. Ano 1968 **


*********************************

Historiando “o antes”


Ano de 1914
Com inicio em Agosto a Alemanha declarou guerra à Russia e França e invade o Luxemburgo e a Bélgica. A 4 Agosto, como consequência do ataque à Bélgica, a Inglaterra declara guerra à Alemanha devido a esta ter atacado um país considerado, através do Tratado de 1831, como território perpetuamente neutral. Ao mesmo tempo o governo britânico informa oficialmente o governo português que «”em caso de ataque da Alemanha contra qualquer possessão portuguesa o Governo de Sua Majestade considerar-se-á ligado por estipulações da aliança anglo-portuguesa”». A 7 Agosto, devido ao deflagrar da 1.ª Guerra Mundial, o Congresso da República Portuguesa, reunido extraordinariamente, aprova um documento de intenções sobre a condução da política externa. Nesse documento Portugal afirma que não faltaria aos seus compromissos internacionais, sobretudo no que diz respeito à Aliança Luso-Britânica. A 18 Agosto é decidido a organização de uma expedição militar com destino a Angola e Moçambique. A 11 Setembro dá-se a partida de Lisboa de uma expedição militar comandada pelo tenente-coronel Alves Roçadas com destino a Angola. A 1 Outubro as forças expedicionárias do comando de Alves Roçadas desembarcam em Moçâmedes, no Sul de Angola, sendo a força composta por 1 [um] batalhão de infantaria, 1 [um] pelotão de metralhadoras, 1 [uma] bateria de artilharia e 1 [um] esquadrão de cavalaria. A 10 Outubro o governo britânico, invocando a antiga aliança, «”formalmente convida o Governo Português a deixar a sua atitude de neutralidade e enfileirar activamente ao lado da Grã-Bretanha e dos seus aliados”». A 19 Outubro há um incidente de fronteira em Naulila, no sul de Angola, no qual são mortos três alemães que faziam parte de uma missão, a qual tinha entrado na província sem autorização e acampado na margem esquerda do Cunene, mas já no território da província. A 22 Outubro as forças expedicionárias de Alves Roçadas e forças provinciais acabam a sua concentração em Lubango, no planalto de Moçâmedes, preparando a defesa do sul de Angola contra quaisquer investidas de tropas vinda da África Alemã do Sudoeste. A 30 Outubro acontece o massacre de Cuangar. O posto português de Cuangar, na margem esquerda do rio Cubango, no Sul de Angola, é atacado por alemães armados de metralhadoras. São mortos dois oficiais, um sargento, cinco soldados europeus e treze africanos, o comerciante Sousa Machado e uma mulher, num total de 22 pessoas. A 31 Outubro Alves Roçadas determina a organização das chamadas “Forças em operações ao Sul de Angola”, com as forças expedicionárias e forças da província. A 5 de Novembro forças militares de reforço da guarnição portuguesa em Angola partem de Lisboa comandadas pelo capitão-tenente Coriolano da Costa, devido a incidentes graves com tropas alemãs na fronteira. A 12 e 13 Dezembro há encontros entre patrulhas portuguesas e alemãs no Sul de Angola, com troca de tiros. A 17 Dezembro forças alemãs, sob o comando do major Frank, acampam nas margens do Cunene. A 18 Dezembro no combate de Naulila as forças alemãs atacam as portuguesas obrigando-as a retirar em direcção a Humbe, no Sul de Angola. Morrem 3 oficiais e 66 sargentos e soldados. A 19 Dezembro as forças portuguesas abandonam Humbe, depois do paiol do Forte Roçadas ter explodido. Retiram mais para norte, para Gambos, com intenção de defender Lubango, no Sul de Angola.

** clicar para ampliar **
** as transformações havidas ao longo dos anos **


Ano de 1915
A 3 Fevereiro mais expedições militares partem para Angola para fazer frente aos ataques constantes das forças alemãs. A 7 Julho as forças portuguesas reocupam Humbe, no sul de Angola, sem encontrarem resistência.

Ano de 1916
A 17 Fevereiro o governo português recebe um pedido do governo britânico «”em nome da aliança”» de «”requisição urgente de todos os barcos inimigos estacionados em portos portugueses”». A 23 Fevereiro Portugal apreende todos os navios mercantes alemães fundeados nos portos portugueses a fim de serem colocados ao serviço da causa comum luso-britânica, numa operação dirigida pelo capitão de fragata Leote do Rego, comandante da Divisão Naval de Defesa. A 9 Março a Alemanha declara guerra a Portugal. A 15 Junho o governo britânico convida formalmente Portugal a tomar parte activa nas operações militares dos aliados. A 9 Julho as forças militares da África Alemã do Sudoeste rendem-se ao general Botha, comandante em chefe das forças da União Sul-Africana. A 12 Julho o general Pereira d'Eça toma conhecimento da rendição da colónia alemã. Ao longo dos meses e anos seguintes as forças alemães foram-se rendendo em África e na Europa.

** clicar para ampliar **
** as transformações e evolução do local continuam **


A 11 Novembro 1918 a Alemanha pediu o Armistício (suspensão da guerra) com base nos Catorze Pontos do presidente americano Woodrow Wilson, um enunciado de condições para a paz, tendo nesse dia entrado em vigor o acordo firmado entre os Aliados e a Alemanha derrotada.
A 28 Junho 1919 é assinado em Versalhes, entre as potências Aliadas e a Alemanha, o Tratado de Paz que põe fim à Primeira Guerra Mundial.

** aspectos do Mercado do Quinaxixi **


[continua]