O Autor em 1973 Nome Leão Verde Localização Norte de Portugal Ver o meu perfil completo Música Angolana
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quinta-feira, 1 de outubro de 2009 Casamentos "à Pato"Como já mencionei nalguns temas o facto de pretender dar corpo a algumas das minhas vivências vividas no ”Outro Lado do Tempo” não tem só e apenas a ver com as pequenas estórias que vou revivendo, mas também com o procurar revisitar alguns lugares, relembrar momentos, acontecimentos, e fazer-nos ”transportar” para um tempo que já não é o nosso, mas já nosso foi. Não podem de forma alguma estes meus reviveres serem considerados como saudosistas, mas devem ser vistos e lidos como nostálgicos das memórias que nos povoam as mentes, dos tempos da nossa meninice, da nossa adolescência, da nossa juventude, daquela vida vivida em África/Angola. Assim sendo hoje vou relembrar o que algumas vezes fiz, o que alguns dos que lerem o tema também o poderão ter feito. Porque era comum, porque fazia parte das aventuras e capacidades de cada um, porque a juventude e a forma irreverente de alguns de nós vivermos a vida fazia com que quisessemos que acontecesse, que nos metêssemos naquelas ”alhadas”, naqueles dilemas/problemas. Este momento foi vivido com o meu mano Mário que comigo partilhou esta minha incursão em busca do casamento ideal para usufruirmos de um ”Casamento à pato”. Por certo alguns de vós já o conhecerão através do seu blog [clicar »» “ Deixa-me ”] que recomendo, tendo este links para outros seus blogs de temas que considero interessantes. Como escreverei num próximo tema só em 1974, e após ter saído da vida militar, é que tive o MEU primeiro carro. E mesmo assim foi porque na altura tive imperiosa necessidade de o ter, face à actividade laboral que então desenvolvia. Se sem carro eu já considerava Luanda como quase ”minha”, então a partir do momento em que o tive Luanda passou a ser minha amante completa, nomeadamente a sua noite. Após ter também adquirido a minha própria ”Independência”, terminado o capitulo militar, alguns amigos acompanharam-me nas aventuras ”loucas” de noites mais que vividas, de dias com mais de 24 horas, de estradas sem fim, de inúmeras directas; ”noite/banho para “acordar”/trabalho/entardecer para “dormitar” um pouco/noite” e o ritmo prosseguia durante dias. A ”aventura” que hoje vou relembrar foi noutras ocasiões vivida com o meu amigo Henrique Mocho, o Xico, o Artur (Bo. Caop) e mais um ou outro. Só que esta com o meu mano Mário decorreu de forma diferente das demais, porque tive(mos) que ”dar de frosques” antes do tempo previsto, O QUE NUNCA ME TINHA ACONTECIDO. Irei, dentro da estória, relembrar como se processava o ”esquema”, pelo menos como eu praticava. Mas regra geral todos eram na sua essência idênticos e tinham como principio serem praticados apenas por dois amigos, para se obterem alguns resultados positivos. Tudo quanto fosse acima desse número seria um risco evidente, por não ser funcional. Tendo já alguma prática desse tipo de ”penetração” estava mais que à vontade para o desenvolver com quem eu ”convidasse” para me acompanhar. É obvio que esse amigo teria que me dar a garantia de saber estar, de saber acompanhar, de saber situar-se no “terreno inimigo”. Não podia de forma alguma dar barraca, não podia ”abanar” ao primeiro olhar de suspeição. Há que dizer, como bem sabem os que se envolveram em ”incursões” deste género, que nunca se deve estar até ao fim e saber ”sentir” o momento próprio da retirada. O ”esquema em grande estilo” começava por uma ronda a algumas igrejas, ver o panorama do casamento, como se apresentavam os convidados, como eram os carros e depois decidir. É evidente que quando se faziam pesquisas deste género já se tinha que ir com alguma fatiota preparada, ou seja, estar-se pronto para o que desse e viesse. Após tudo visto, analisado e de se saber onde seria o copo de água - fundamentalíssimo :)) -, aguardava-se, sem dar muito nas vistas, que a comitiva chegasse ao local do repasto, juntava-se ao grupo de convidados e então estava-se preparado para um Dados os passos essenciais acima descritos eu e o meu mano Mário, depois de tudo analisado, visto e revisto, desenvolvemos o plano de acção. Vestidos a preceito, juntamo-nos à comitiva e com a maior desfaçatez (era assim que procedia, daí o grande estilo) tiramos fotos com os noivos no jardim existente frente ao restaurante, assim como as do conjunto geral. Abraços, beijinhos, felicitações e há que subir a escadaria para o restaurante superior. A hora do estômago já há muito havia batido e aquele pessoal ainda com fotos [convidado sofre :)) ]. O ”cerco” à mesa, o ataque às bebidas, risos, mais abraços e finalmente o momento de se saber como se chama o noivo, a noiva, como se chamam os pais dele, dela, e as coisas próprias de um plano minuciosamente preparado. Só que primeiro comemos e bebemos, que era o objectivo principal. Daí chamar-se “Casamento “à Pato” e tinhamos que fazer jus ao nome. Depois é que iriamos procurar obter as informações necessárias para o fim em vista. nota 1:-** Um aspecto que se tinha em atenção era o de se saber conversar com os empregados, mormente com o que pudesse estar perto da porta de saída (quando esta era guardada), como era o caso, não fosse o diabo tecê-las. ** Com a ”lata” própria dos kaluandas a sério trocamos impressões se haveriamos ou não de dançar quando os noivos abrissem o baile. Decidimos que dependeria do tempo decorrido entre o entrar a ”dar aos maxilares” e a abertura da dança e também, como é obvio, se desse para lançar “pescaria” a alguma garina ”solitária”, caso se criasse alguma empatia. nota 2:-** Numa situação como a nossa a atitude de se dançar ”ajudava” a que não se levantassem suspeitas. Pelo menos no imediato. Mas regra geral evitava-se esse risco pois a motivação não era o dançar, mas sim o espirito da aventura, da adrenalina que tomava conta dos ”penetras”, do gozo pessoal, a satisfação da irreverência da situação.** **Como já se aperceberam, ao estar a reviver este momento com o meu mano Mário estou em simultâneo a descrever toda a perspectiva comportamental que se deveria ter quando se tivesse que se aventurar esquema deste género.** Enquanto deambulavamos por entre a farta mesa e deixavamos uma ou outra palavra numa conversa qualquer, com um riso ou sorriso à mistura, percorriamos com o olhar a sala e os presentes para ”sentirmos” se estaria, ou não, chegado o momento da retirada estratégica. Como já mencionei, havia que saber qual o momento certo para a saída. nota 3:-** Referi no inicio que uma das tácticas era a de criar empatia com os empregados, nomeadamente com o tal que ficava à porta, e dar-lhe a entender, sem NUNCA lhe dizer, a “qualidade” da nossa presença naquele casamento. O truque aqui consiste em o empregado deduzir convictamente que nós não éramos convidados e proporcionar-lhe a satisfação de também entrar no “jogo” e colaborar na saída rápida, se necessário. Concluindo, ele ficava a saber que a porta NÃO PODIA estar , em momento algum, fechada.** Aconteceu que a dado momento ”sentimos” que alguns olhares ”pousavam” sobre nós. Em tempo oportuno e após sabermos os nomes dos noivos, demos parabéns à noiva como sendo convidados do noivo e parabéns ao noivo como sendo convidados da noiva. Parabéns aos pais de ambos, parabéns a todo o mundo. Foi um fartote de parabéns. Só que enquanto decorria a dança e nos movimentávamos em volta da mesa ter-se-á dado o cruzamento da informação. O nosso à vontade era tanto que não nos estavamos a aperceber que não mantinhamos presença demorada junto dos grupos de jovens presentes, nem de ninguem em particular. Deixavamos uma palavra aqui, outra ali, um sorriso, mas tudo quase sempre em andamento. Devido a esse factor [erro grave], "despertamos" a atenção dos familiares dos noivos e deles próprios. O certo é que tinha chegado a nossa hora de bater em retirada. Com o silêncio que momentaneamente se fez, pelo menos ficamos com essa sensação, olhei de soslaio para o empregado junto à porta e pelo olhar dele percebi que tinhamos sido ”detectados”. nota 4:-** Em situações deste tipo, ao contrário de outras, é imperioso que os “infiltrados” estejam o mais perto possível um do outro para que o alerta seja rapidamente perceptível a ambos.** Tendo quase certeza de que estavam a chegar à conclusão que nós NÃO pertenciamos àquele casamento antecipamo-nos e descontraidamente, mas com passada firme, dirigimo-nos para a porta da ”salvação”. nota 5:-** Quem conhece o Restaurante Restinga lembra-se que para o primeiro andar só havia uma porta de entrada e saída para os clientes (a que ficava virada para o jardim), pois a outra, tipo caracol, virada para o mar, era utilizada pelos empregados na prestação do serviço, embora também pudesse ser utilizada pelos clientes que quisessem ir directamente para o bar/esplanada.** Como o empregado se tinha apercebido da situação na altura do berro fecha a porta ele “não se encontrava” no seu posto mas sim a ”tratar” dumas quaisquer bebidas. Só que antes disso, e como cúmplice que quis ser, tinha deixado a porta entreaberta, preparada para fuga. Aceleramos o passo e “voamos” por cima das escadas. Por dispormos de boa condição fisica e sendo jovens rapidamente alcançamos a escuridão da noite e bem depressa desaparecemos antes de sermos ”chacinados” por aqueles ”sovinas”::)). Embora não soubessem qual era o nosso carro (um dos cuidados do ”esquema” era também esse), aguardamos o tempo necessário para que o ”temporal” passasse a fim de nos metermos no meu Morris Mini Cooper AAV-15-40 (verde seven up) que roncando nos conduziria por aquela densa selva de cimento e de alcatrão da cidade de Luanda. O riso e a satisfação do ”dever cumprido” acompanhavam-nos. Ao meu Mano Mário um Grande Abraço de Amizade e por naquele dia ter-se portado, como meu parceiro, à ”altura da situação”. Saudações e Inté
Comments:
Nunca passei por tal, mas o espírito da juventude era esse.
O incrível era a nossa imaginação para procurar a confusão e o gosto pelas aventuras. Foi fixe leo. Um abraço. Continua.
Mano
Tu é que tinhas pinta para aquilo. :) O cumprimentar a noiva e o noivo, as famílias de ambos, o desejar a felicidade plena entre dois croquetes e uma cerveja só tu. :) Aquela troca de olhares quando nos apercebemos que a famílias de um lado perguntavam aos do outro quem éramos nós, foi o mote para um encaminhar para a saída e num bye-bye arrancarmos dali a todo o vapor. :) Foi um óptimo casamento e o "pato" estava 5 estrelas, não sei é se tinha laranja. :))))))))) Abraço!
Bebemos da mesma água de Zau amigo e companheiro.
Um grande abraço para ti e para o teu irmão e para todos aqueles que lêm o que escreves, e é bom que leiam, este ou outro blog de quem viveu na primeira pessoa aqueles anos que só os que lá viveram podem contar, eu conto meia dúzia de capitúlos mas vocês escrevem o livro todo, com algum sofrimneto e nostalgia, mas são vocês que sabem a verdade e a mentira de uma Guerra e do sofrimento de um povo que podia ser evitada. Abraço do, Zé Lessa
Pois, pois... "à pato" né? cheios de sorte, não partirem nenhuma "pata" ao deslizar escada abaixo!, mas lá diz o ditado "ao menino e ao borracho, põe Deus a mão por baixo" E que g'anda filme não davam as suas estórias!!! Agora os "putos" só se divertem a roubar casa comerciais, carros, aviões (como ainda ontem noticiáram) e depois serão galãs de bilheteira... Não há malta como a "nossa" malta: só irreverência! E depois com tanta fartura naqueles casamentos, até era pecado não aproveitar!
E o saudosismo para mim é muito saudável: sendo um somatório de saudades, só pode ser sentimento de quem tem o que recordar. Dos certinhos, direitinhos, sensaborões e cínicos... distância por favor!!!! Consigo bem que gostaria de me ter cruzado nas estradas da vida, que bem que terá sabido dosear o rocambolesco temperando-o com a dignidade de gente de bem. Pobre de quem não tem estórias... Saudações
Olá Célia,
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Agradeço a sua intervenção neste blog que, como já terá lido, pretende ser de todos quantos viveram as diversas peripécias no "Outro Lado do Tempo". Na estória do tema era comum a procura de entradas " à pato " nos muitos casamentos que aconteciam. Era tudo uma questão de saber estar, de ter dignidade no acto e de criar as empatias necessárias para que tudo "corresse" às mil maravilhas. Pessoalmente penso que numa ou outra entrada " à pato" terei sido "detectado", mas o comportamento, a elegância no trato e a eloquência na conversação terão contribuido para que tivessem "tolerado" a minha presença, assim como de quem no momento me pudesse estar a acompanhar. O resto era a juventude e a irreverência a funcionar. Tudo de Bom << Home |