O Autor em 1973 Nome Leão Verde Localização Norte de Portugal Ver o meu perfil completo Música Angolana
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Recital de PianoCá estou para contar mais um momento das minhas vivências, mais uma estória, hoje relembrada com outro sabor, com outro “gozo”, com outro “olhar”. Nos Combatentes, Luís de Camões, Samba, Bairro Prenda, Praia do Bispo, Corimba, Bairro de Stª. Bárbara, Bairros Populares nº1 e nº 2, Bairro Sarmento Rodrigues, Cuca, Terra Nova, enfim, por toda a Luanda os prédios surgiam como cogumelos; os bairros alargavam as suas fronteiras, novos, modernos e funcionais hotéis, cinemas e casas de espectáculos eram construídos. Luanda era uma verdadeira capital cosmopolita e multirracial. As suas artérias eram percorridas por diversas raças, diversos credos, diversas nacionalidades. Luanda era o centro de todas as atenções exteriores. Era a cidade que mais crescia, que mais se desenvolvia e se modernizava em TODA a África. Dentro deste panorama a sociedade luandense aburguesou-se, começou a ter “tiques” de modernidade evoluída e sentiu a necessidade de ter um outro espaço de âmbito cultural mais atraente, mais moderno, mais funcional, onde a arte, a dança, a música, o teatro e outras representações similares pudessem ter um palco digno para as diversas variantes marcadamente culturais. O único espaço do género existente, o “velhinho” Cine-Teatro Nacional, já não correspondia às novas exigências, às novas concepções que os empresários procuravam ter para a montagem dos seus espectáculos. Praticamente toda a minha vida, enquanto ligado ao mundo do trabalho, teve sempre a baixa de Luanda como destino, tendo acompanhado, de certa forma, o “nascimento” do Teatro Avenida. Situado na Av. dos Restauradores de Angola, o Teatro Avenida foi construído a partir dum antigo quartel de bombeiros existente naquele local nos anos 1967/1968. Na altura eu estaria a trabalhar no Alfredo F. Matos ou na oficina do Sr. Brito, sita na Rua de D. Francisco Soveral, por detrás (+-) do Baleizão. Inaugurado, penso que em 1968, com pompa e circunstância, aquela excelente estrutura logo se tornou o espaço “coqueluche” da ávida société luandense. Com programações aliciantes e de longa temporada, o Teatro Avenida estava quase sempre com lotação esgotada durante várias semanas. Naturalmente que o T. Avenida começou a ser o centro, o pólo de atracção e das atenções domésticas. Era “chique” ser-se visto(a) no T. Avenida num qualquer espectáculo, para no dia seguinte no salão de chá do Hotel Trópico, onde trabalhei durante 2 (DOIS) longos e penosos dias (talvez um dia conte essa minha “nobre” e “espinhosa” missão), no Paris Versalhes, ou noutro qualquer salão de chá, tagarelarem do espectáculo que "NÃO" viram, mas de quem viram, como estavam vestidas e/ou penteadas, com quem iam acompanhadas, etc., etc. Enfim … as naturais fofoquices do mundo mundano. Como sempre, desde que soubesse, pudesse e me interessasse, eu procurava estar sempre na “primeira” fila dos acontecimentos. Não fazer parte um dia daquela massa humana que semanalmente enchia o Teatro Avenida era “coisa” que não fazia sentido. Assim pensando só teria que levar à prática esse meu querer, e de preferência à “borlex”, pois isso de pagar só em última estância :). Bom, no caso desta estória a “borlex” aconteceu porque o meu cunhado explorava o bar/café do Teatro e assim foi fácil obter a entrada não pagante. A acompanhar-me nesse desiderato estava o meu mano Mário, pois cultura e “esculturas esculturais” eram connosco :). Na época teria 17 anos e Mário 16 anos. Desconhecíamos qual o programa e “saiu-nos” em cena um espectáculo que fez com que desse o titulo deste tema ou seja, era um Luanda vestia as suas multicolores cores nocturnas para se tornar ainda mais bela. O néon dos reclamos despejava a sua luminosidade nas águas calmas da baía. Os luandenses descansavam num dos muitos bancos junto à Baía ou passeavam pelo largo passeio da Marginal, onde as palmeiras ondulavam sensualmente face à fraca frisa marítima que se fazia sentir. O Café Baía, onde se bebia um excelente café, geralmente mais ocupado por intelectuais que por famílias ou grupos de amigos, era também um bom ponto de encontro. A esplanada do Baleizão regurgitava de gente, que entre uma cassata (gelado tipo quarto de bola incrustado de fruta seca), uma girafa, uma pata de elefante ou simplesmente um fino, acompanhado das famosas tapas (queijo chulé e presunto), davam o mote para amenas cavaqueiras. O mais que famoso prédio “Treme Treme” ainda não “tremia”. A noite ainda não era noite, apesar de serem quase 21h45, mas o “tremer” era reservado para um horário mais tardio. A esplanada da Cervejaria Amazonas também estava quase cheia e entre uma cerveja ou um fino à maneira, um terço era só de espuma, os camarões e lagostins eram degustados como um verdadeiro manjar dos Deuses. O pianista, talvez algum nome sonante do momento, levantava os longos braços e os dedos esguios martelavam sem dó nem piedade as teclas pretas e brancas do piano. Por vezes quase que esses sons eram apenas pequenos e suaves sussurros. Os sons saídos do teclado ao fim de uns quantos prelúdios e outras designações do género começaram, a dado momento, a soar-nos de forma “estridente”, distorcida, angustiante. Já estávamos a ficar sem “pachorra” para aquilo. Na sala repleta os eruditos assistentes aplaudiam cada finalização do tema tocado. O pianista estava empolgado por verificar que a assistência percebia da “poda” e manifestava esse seu reconhecimento com umas mais quantas marteladas nas teclas. E a multidão continuava a aplaudir. Mas nós não acompanhávamos aquele entusiasmo de bater desalmadamente as palmas. Sabíamos que éramos “profundos conhecedores":)) da matéria e só aplaudiriamos quando verificássemos ser o momento próprio. E o homem tocava, tocava, e a plateia começou a ficar desassossegada. Então o “desarticulado” pianista não parava para intervalo!!! O chichi tinha que ser vertido, o cóccix atormentava a coluna vertebral, já não havia jeito de estar sentado e o “louco” continuava a tocar!!! Até que de repente, o pianista, depois de uma teclada mais forte, levanta os braços e demora mais um “milésimo” de segundo que nas vezes anteriores a baixá-los. É a “loucura” total. Os ilustres cavalheiros, senhoras e senhoritas aplaudiram, levantaram-se com as luzes da sala ainda apagadas e as portas de saída com as cortinas corridas e "correram" para elas quando o pianista, estupefacto com aquele súbito movimento, deixou cair de novos os longos dedos sobre as teclas e deu continuidade ao prelúdio ou “dilúvio” do que estava a tocar. Os que ainda “aceleravam” para as saídas regressaram e voltaram a sentar-se, olhando-se feitos parvos uns para os outros e ainda mais atónitos para aquele “desalmado” que não parava de tocar. O silêncio fez-se na sala altura em que eu e o Mário nos levantamos, aplaudimos de forma repentista, mas pausada, e saímos. Sentimos que aquele era o momento certo para darmos nota do nosso “profundo” conhecimento. Já nos tínhamos fartado de estar no "profundo dormir" e aquele súbito silêncio acordou-nos verdadeiramente para a realidade. Foi quando saímos, aplaudindo. Era pianista e piano a mais para os nossos atormentados cérebros. Apesar daqueles sons terem sido doces acordes para o nosso adormecer, o certo é que mesmo assim já estávamos fartos do concerto de piano até à raiz dos cabelos. Aguardo também que esta estória vos possa ter feito sorrir, se for lida como se qualquer um de vós tivesse sido um de nós. Para o meu mano Mário com um Abração e continuação de Boas Férias. Saudações e Inté
Comments:
Olá Leão... Há quanto tempo!
Ali, claro que não ia, e ainda bem que nem fui, se foi uma seca enorme para vós, ao menos tivestes musica para adormecer.. Do que te foste lembrar. Gostei de ver as fotos daquele recordar da nossa Cidade. Um abraço da Garota..
engraçado foi no teatro avenida que vi o minha primeira revista, sabes com garotas com nada na parte de cima. foi demais para um jovem, não tinha mais de 17 anos. um abraço leo . Do edu
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