O Autor em 1973 Nome Leão Verde Localização Norte de Portugal Ver o meu perfil completo Música Angolana
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Casamento «» Foi há 34 AnosEsta foi a canção/música que decidimos ser a Nossa. Ouvíamo-la sempre que era possível e dançávamo-la por diversas vezes, pois era obrigatório que ela fosse tocada onde estivéssemos, desde que eu “controlasse” o panorama musical como "DJ". Recuperei-a para abrir este tema, para me “levar” ao dia 26 Julho 1975. Há 34 anos atrás este dia de calendário foi num Sábado. Ano da graça de 1975. Luanda, capital de Angola. Viviam-se desde há alguns meses momentos bastante agitados e conturbados em Luanda, assim como em quase toda a Angola. O golpe militar de Abril de 1974 desencandeou uma série de acontecimentos dos quais resultaram, em relação a Angola, os Acordos de Alvor em Jan./75, em que foi acordada a independência de Angola para o dia 11 de Novembro desse ano, precipitando o que desde sempre se soube que seria mais que previsível; a guerra sem tréguas entre os movimentos de libertação, MPLA [FAPLA]; FNLA [ELNA] e UNITA [FALA]; (entre parênteses a denominação dos seus exércitos). A UNITA e a FNLA entrados em Luanda em Junho/Julho de 74 e o MPLA em Nov. do mesmo ano travavam lutas fratricidas e destrutivas para controlo de Luanda, a capital de Angola, a capital do poder politico para a independência. O 11 de Novembro aproximava-se e os diversos Acordos assinados pelos três movimentos iam deixando de ter valimento à medida que a ambição do poder unilateral cegava os dirigentes máximos de cada um dos movimentos, quais marionetes dos países que militarmente e logisticamente os apoiavam em prol dos seus interesses expansionistas. Era essencial controlar Luanda para legitimar o poder politico. Para isso era necessário obter e consolidar de forma absoluta a tomada de Luanda, capital da ainda “Província de Angola”, futura capital do novo país que no quadro geográfico africano iria nascer. Esse poder politico absoluto só seria possível com a retirada dos outros dois movimentos. Fossem quais fossem. Por esse motivo a guerra era feroz, sem tréguas e sem regras. Cada palmo de terreno era um ganho ou uma perca para cada uma das forças beligerantes. Nas respectivas emissões de rádio ouvia-se da parte da UNITA... aos nossos inimigos (MPLA) nem um palmo de terra; respondendo o MPLA que... aos nossos inimigos (UNITA e FNLA) muitos palmos de terra... em cima. Centenas de Milhares de portugueses e de angolanos fogem do terror instalado por toda Angola. Mata-se e morre-se sem se saber porquê e sem porquês. Luanda é uma cidade apavorada. A UNITA agora fortemente apoiada pelos E.U.A, através da África do Sul, a FNLA apoiada pelo Zaire e o MPLA pela URSS e instrutores cubanos, adquiriam dia a dia mais poderio em equipamento militar, tornando quase insuportável o dia-a-dia em Luanda. É neste cenário de total desnorte que dois jovens, ele com 24 anos e ela com 22, conversam e decidem ficar para continuarem a viver na terra que consideram como sendo a sua. Procuram solidificar essa ideia do ficar através do casamento. Inicialmente marcado para o dia 19 de Julho de 1975, o casamento, a ter lugar na Igreja de S. Paulo, teve que ser adiado devido à intensificação da guerra entre os movimentos. Na sequência de uma operação com armamento pesado e numa acção mais alargada levada a cabo pelo MPLA no fim-de-semana anterior à do dia 19, as FAPLA destruíram literalmente quase todas as bases da FNLA na região da cidade de Luanda, atacando com morteiros e mísseis terra-terra os aquartelamentos dos ELNA, assaltando-os e incendiando-os de seguida. Na Avª. dos Combatentes, na zona alta da cidade e por quase por toda a cidade travam-se combates ferozes, quase corpo a corpo. As forças do MPLA, fortemente apoiadas no terreno pelo poder do armamento enviado pelos camaradas soviéticos e instruídas pelos companheiros cubanos, assim como com o comprometimento do “almirante vermelho” que colocou à sua disposição diversa quantidade de arsenal do exército português, começam a controlar e a patrulhar com tanques de guerra praticamente toda a Luanda. Ao mesmo tempo milhares de pessoas vindas das zonas suburbanas da cidade, as mais flageladas pelo tiroteio, procuram abrigo no interior da cidade/capital. Nesse sangrento fim-de-semana calcula-se que tenham havido largas centenas de feridos e mais de 200 mortos, muitos dos quais, por falta de espaço no interior das morgues, ficaram amontoados nas entradas. Tendo por fundo esse cenário e pela insegurança reinante foi decidido pelas partes envolvidas [igreja e noivos (nós)] adiar por mais uma semana o casamento, passando do dia 19 para o dia 26 Julho, caso no decorrer dessa semana se verificasse a existência de um mínimo de segurança para o fim em vista e, logicamente, se ainda estivéssemos vivos. Felizmente naquele dia 26 o acto solene pôde ser concretizado, em conjunto com um outro casal que também tinha agendado o matrimónio para esse mesmo dia. Enquanto decorria a cerimónia conduzida pelo padre capuchinho Paulo ouvíamos no exterior fortes rajadas de metralhadora e morteiradas como sequência do conflito armado ainda em curso. O padre Paulo, procurando desanuviar alguma preocupação, disse a todos os presentes para manterem a calma, o que sucedia, pois tiros e morteiradas faziam parte do dia-a-dia de quem vivia em Luanda. Soube, no dia seguinte, que o MPLA tinha dirigido um ataque a uma Delegação da FNLA que se situava bem no coração do Bairro Operário. Nada melhor que em vez de a estar a descrever através da escrita a mesma ser contada em directo e a cores pelo próprio interveniente EU). Para ouvirem e verem será só colocar em stop a música de abertura do tema, clicarem no quadro abaixo e…………. Ouvida a estória daquele meu momento que antecedeu o casamento (agora considero ter sido delicioso), poderão, se assim o entenderem, clicar em Play, e continuarem a ouvir a música do tema enquanto seguem a leitura da restante estória. "Não tive tempo no programa para contar como é que me “desenrasquei" para fazer o famigerado nó da gravata". Simplesmente não o fiz. Meti a gravata no bolso e depois de ter chegado à igreja foi meu pai quem no adro fez o nó, tal como o fazia em anteriores situações. Tirou a gravata dele, colocou a minha no seu pescoço, fez o nó e, depois de feito, colocou-a no meu pescoço. Simples e nada complicado … para ele, está claro. O copo de água, organizado pela D. Gisela, que trabalhava nos escritórios da Sulcine (Miramar) e era colega da agora minha mulher, decorreu nos jardins de uma vivenda da Cidade Alta. Tivemos que acabar cedo com a farra do casamento já que às 21H00 começava o recolher obrigatório que ia até às 6 horas da manhã do dia seguinte. Mais um momento marcante desse dia de casamento. Nessa época eu trabalhava nos escritórios da Samil (representante da Peugeot) que se situavam um pouco antes do início da Estrada para o Cacuaco. Tinha deixado recentemente de ser oficial de diligências na 2ª Vara Cível de Luanda, sita na Rua Sousa Coutinho, pois os tribunais começavam a ser alvo de alguns atropelos e fui aconselhado a sair antes que a situação se complicasse, uma vez que tinha decidido ficar. O copo de água decorreu da melhor forma possível e a música de abertura da dança só podia naturalmente ser o “Torna Con Me”, musica de fundo deste tema. Foi o meu mano Márioquem colocou o single e a fez tocar para que o casal (nós) dançassemos a nossa canção, pois foi essa a melodia que quisemos que fosse para a abertura do baile do nosso Casamento. No dia seguinte, Domingo, acordamos a meio da manhã e fomos para a praia. À tarde regressamos e na Segunda-Feira fomos trabalhar. Tínhamos muito tempo para a famosa Lua-de-Mel. Estar e ficar em Luanda/Angola já era o suficiente. O Futuro estava à nossa frente e era preciso Ganhá-lo. E nós tínhamos ficado para que isso fosse uma Realidade. Saudações e Inté nota;Luanda resistiu e o MPLA em Agosto de 75 expulsa definitivamente a Unita e a FNLA. Através da acção militar ganhou o poder político.
Comments:
Ao ler tudo aquilo que escreveste hoje veio à memória a tua muito curta passagem pelo programa da Júlia Pinheiro... (foi bom te rever de novo)
E as minhas suspeitas confirmaram-se hoje. Se tivesses tido oportunidade, ou se te tivessem dado essa oportunidade... esta seria a estória que tu terias contado naquele dia no programa... Sabes que eu estava à espera de ter ver aparecer de t-shirt com um grande... enorme... Leão Verde estampado? :) O casamento é sempre um acontecimento especial na vida de qualquer pessoa mas este vosso casamento, devido às circunstâncias que o envolveram e a todas as situações a ele inerentes, tornaram-no ainda mais especial... Tendo em conta também que foi o noivo que chegou atrasado... para desespero da noiva e dos convidados :) Antes de mais um beijinho muito grande para o casal :) Para ser muito sincera custou-me imenso ver aqui imagens tão degradantes e humilhantes associadas a imagens tão bonitas... Imagens de duas estórias paralelas... que se enquandram dentro de uma só estória. Confesso que li este teu tema por volta das 20 horas e só agora comentei... Depois do jantar liguei para a minha irmã... em 75 eu era uma catraia e apesar de me lembrar de algumas coisas que o meu pai contava... a minha irmã, sendo mais velha, veio completar algumas lacunas desta parca minha memória daqueles tempos... mas é claro que tudo o que se falava na altura sobre Luanda, aqui em Portugal, era muito relativo... Só mais tarde com a chegada de algumas pessoas conhecidas e familiares é que nos apercebemos da verdadeira situação vivida pelos portugueses, em Luanda, entre 74 e 75... Não estarei mentido se disser que estive quase uma hora a falar com ela :) Um pormenor aqui... outro ali e as nossas lembranças acabam por se completar :) Falámos do dia 10 de Novembro de 75... em que a bandeira portuguesa foi pela última vez arreada no Palácio do Governo e na fortaleza, dobrada e redobrada...quase 500 anos depois das naus portuguesas ali terem largado ferros, o último representante da soberania portuguesa abandonava a jóia do ex-Império, e partia, "sem cerimonial", rumo à base naval da ilha de Luanda. Falámos da fragata "Roberto Ivens" que escoltava o "Uíge" e o "Niassa", para, pela última vez, zarparem para Lisboa. ( houve uma altura que a minha irmã me disse..."sabes? aquela coisa parecida com uma traineira!!! - estava a referir-se à fragata )... falámos das estátuas de imortais portugueses que jaziam apeadas, e no sítio havia só os pedestais, já pintados com o vermelho-negro do MPLA; falámos também da extrema ingenuidade política quando algumas entidades concordaram com certas cláusulas do acordo do Alvor; a célebre ponte aérea, organizada com o apoio de países estrangeiros, que retirara de Angola, no meio de indescritíveis cenas de pânico e muita confusão, quase meio milhão de portugueses; do Campo da Revolução, no Sambizanga, onde o povo condenou ao enforcamento os espantalhos dos presidentes da FNLA, Holden Roberto, e da UNITA, Jonas Savimbi. Enfim...fomos falando e recordando acontecimentos há muito esquecidos... E assim Portugal entregou Angola aos angolanos, depois de quase 500 anos de presença, durante os quais se foram cimentando amizades e caldeando culturas, com ingredientes que nada poderá destruir. "Os homens morrem, mas a obra fica". E a propósito de não saberes dar o nó na gravata... :) Conheces aquela canção? Ó Josué aperta o laço Ó Josué aperta-o bem Ó Josué aperta o laço Ó Josué aperta-o bem Que o laço bem apertado Ai, ó Josué fica-te bem... Nova versão sujeita a direitos de autor :)) Beijinho
Olá mano
Pelo que aqui descreves, juntando duas vertentes de uma mesma altura, uma guerra e um casamento, poderá fazer confusão a muita boa gente essa ligação quando, os mais românticos, gostariam de ver aqui só um casamento, nasceram os filhos e foram felizes para sempre, como se de uma novela cor-de-rosa se tratasse. Mas a realidade, na altura, era diferente e foi essa diferença de muitas outras realidades mais “jet-set”, que foram por ti aqui escalpelizadas, dando o travo doce/amargo de que enquanto decorria dentro da Igreja o vosso casamento, seres humanos, cá fora, debatiam-se no dilema de uma guerra civil, onde a fronteira entre a vida e a morte estava dependente de serem o alvo ou não, do risco traçado por uma bala ou morteirada. Na tua entrevista, referes o facto de para nós já os tiros não serem susceptíveis de nos causar engulhos tal a indiferença, que de tão habituados estávamos, admirávamos era quando não se ouviam, sinal que algo estava mal, pois era de prever que as forças em litígio estavam a preparar terrenos para novas ofensivas cada uma mais terrível que a anterior. A carnificina continuava cá fora, enquanto no interior da nossa Igreja de S. Paulo, o vosso casamento decorria com a presença dos últimos amigos e familiares que esperavam uma Angola melhor onde coubessem todos aqueles que a amavam. Ficaste tu e a B. enquanto a Mãe, Pai, Quim e finalmente eu dissemos adeus àquela terra vermelha. Aqui fica, cronologicamente, o que de mim ficou escrito há 34 anos atrás sobre os acontecimentos antes, durante e depois do casamento: No dia 4-7-75 fui contigo comprar o fato para o teu casamento. Foi no dia 12-7-75 que a bala se incrustou na porta de casa na altura que a mãe estava a abri-la. No dia 19-7-75 foste comigo às “Obras Públicas” onde fui fazer o exame para a carta de condução. Enquanto os outros estavam agarrados ao código nós estávamos na galhofa a contar anedotas. No dia 22-7-75 fui contigo ao padre para ser testemunha e fomos até ao recinto do teu casório. Deram cabo, à bomba, das instalações do “Jornal de Angola”, ex “Província de Angola”. Dia 26-7-75 fomos de manhã levar grades de cerveja, refrigerantes para o recinto, fomos ao barbeiro e tu não gostaste do penteado que ele te fez e chegaste a casa penteaste-te à tua maneira e depois fomos levar a aparelhagem. Fui o primeiro a chegar ao recinto para por a “Marcha Nupcial” a tocar quando vocês entrassem. O leitão ainda fumegava e estava uma delícia. Quem serviu o copo d’água foi a “Baratinha”. No dia 3-8-75, houve manifestação da população branca junto ao Miramar para pedirem às embaixadas barcos e aviões para se irem embora de Luanda. No dia 5-8-75 pensava que o meu destino era Brasil e já tinha tratado das vacinas mas acabei por não ir porque já não havia passagens para lá, só havia a partir de 12 de Novembro. Dia 11-8-75. Na padaria “Lafonense” a fila para o pão começava à 1h da manhã e dava a curva pelo “Triunfo” até perto do “Bar Cravo”. No dia 2-9-75 levaste-me ao aeroporto para apanhar o vôo 652 e a hora da partida foi às 10h30’ da manhã. Cheguei a Lisboa ao fim da tarde! Parabéns para ti e para a B. por estes 34 anos de casamento.
UM CASAMENTO QUE DÁ PARA RECORDAR AINDA MAIS, DADO O ESTADO DE GUERRA QUE SE VIVIA NA NOSSA LUANDA.CONTUDO, REALIZOU-SE E JÁ LÁ VÃO MUITOS ANOS, O QUE QUER DIZER QUE FOI UMA BODA ATRIBULADA, MAS ABENÇOADA.CONTINUEM A GOZAR A VOSSA MERECIDA FELICIDADE. SÓ MUITO AMOR, PODE CONTRIBUIR PARA UMA RELAÇÃO A DOIS QUE JÁ É LONGA. PARABÉNS, BEIJINHOS.
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