terça-feira, 11 de novembro de 2008

 

Independência … Foi há 33 Anos [ parte última ]


** Mindo – Pioneiro Pedrinho **


A dura “batalha de Luanda” estava no seu fim. O MPLA, com a ajuda do povo angolano urbano, mas principalmente o que vivia nos musseques, o suburbano, assim como com a acção desassombrada de não medo dos candengues pioneiros, crianças feitas homens/soldados, acabou por vencer e em Agosto de 75 a UNITA e FNLA foram definitivamente expulsos de Luanda.

** como ficou a Sede da FNLA em Luanda – Avª Brasil **


A acção militar das FAPLA tinha criado as condições para que o poder político do MPLA controlasse Luanda e proclamasse a independência.
E Luanda respirou, sossegou, retomou lentamente a tranquilidade e começou a “sarar” algumas das feridas abertas.
Mas sabia-se que as chamadas forças do inimigo não iriam deixar de pensar em tomar Luanda. Caxito, a 60 quilómetros de Luanda, foi a zona de concentração e recuperação logística da FNLA, tendo a UNITA rumado para o Huambo, zona de sua influência e de apoio. Mais lutas armadas se produziram e as FAPLA, agora com o apoio directo de forças regulares do exército cubano, souberam sempre vencê-las.

O dia 11 aproximava-se a passos de gigante e sabia-se que o assalto final a Luanda estava a ser preparado. Seria no dia 10 de Novembro. Caso Luanda fosse tomada por qualquer um dos outros movimentos seria a chacina total, já que todos que estivessem em Luanda eram considerados pró MPLA, portanto inimigos a abater. Haveria um banho de sangue. A matança era mais que GARANTIDA, assim o proclamavam Holden Roberto e Jonas Savimbi e isso EU ouvi, não era propaganda do MPLA » ... os brancos e mulatos que não tinham ido embora e ficado em Luanda eram todos do MPLA, portanto ……

Dia 10 Novembro. Nesse dia não se trabalhou. Era a preparação para a independência, para o que desse e viesse. O aeroporto estava fechado, as ultimas tropas portuguesas estavam ao largo, na baía, e Luanda estava “cercada”.
Indo até à ponta da Ilha ouvia-se, vindo dos lados de Quifangondo, o estrondo dos obuses e de artilharia pesada. Aliás, em qualquer ponto dos mais altos da cidade de Luanda ouvia-se perfeitamente os rebentamentos, dando uma terrível perspectiva de como poderia vir ser a noite desse dia.

A cidade/capital estava a horas de proclamar a sua independência. Só não se sabia por qual dos movimentos. Se o que a dominava, o MPLA, ou qualquer um dos outros que a pretendiam tomar de assalto. A batalha decisiva travava-se em Quifangondo. Sabia-se que as tropas da FNLA tinham agregados ex-militares portugueses, um auto denominado ELP [exército de libertação de Portugal] e alguns mercenários.

A ansiedade estava presente em todos nós, os “resistentes” à debandada, aos que quiseram ficar para ajudar e colaborar com o novo país independente que daí a algumas horas iria surgir no mapa africano. Era ansiedade, alguma angústia e temores contidos pois sabíamos o que nos poderia acontecer se as tropas de Holden Roberto conseguissem passar a barreira de combate de Quifangondo. Seria a mortandade generalizada, seria o inicio da guerrilha urbana, pois as FAPLA e a população não deixariam de se entrincheirar nos prédios, nas casas, nos musseques, para dar combate aos invasores e Luanda ficaria também irremediavelmente irreconhecível, como ficaram outras cidades e vilas de Angola.



À medida que o dia desaparecia para dar lugar à noite ouvia-se com mais nitidez os tiros de canhão e dos quarenta canos da artilharia pesada das FAPLA. Adivinhava-se que poderia estar a acontecer um grande e feroz combate em Quifangondo.
Era o dia “D” e aproximava-se a hora decisiva da proclamação da independência.
Quando Agostinho Neto leu o discurso da independência ouviram-se tiros de armas ligeiras e de algumas pesadas por todo o lado, bem dentro de Luanda, bem perto de cada um dos residentes. Penso que por momentos, talvez eternos momentos, a maioria da população não soube a razão de tal tiroteio.
Eu pelo menos desconhecia, pois nunca me passou pela cabeça que os festejos da independência seriam celebrados com tiros. Mas depois apercebi-me, no meu posto de observação desse 5º andar da Rua D. António Saldanha da Gama, que o tiroteio se devia ao acto solene em curso e nunca mais me lembrei de como teria ficado a batalha de Quifangondo.
Sei apenas que me deitei e adormeci como um justo. Tinha assistido ao nascimento de uma nova nação e senti-me seguro por ter sido o MPLA a concretizá-lo.

** subida da bandeira da R.P.A. **


No dia 11 de Novembro 1975 soube, pelos jornais e rádio, que as tropas da FNLA tinham sido amplamente derrotadas pelas FAPLA, com o auxílio das unidades do exército cubano, e tinham recuado para a zona de Caxito, sendo perseguidas pelas tropas vencedoras.
No dia 12 de Novembro o Jornal de Angola tinha na primeira página uma foto com centenas e centenas de mortos do exército ELNA e em destaque o cadáver de Holden Roberto. Acreditei, como por certo todos quantos viram e leram as noticias.
Dias depois vim a saber que Holden Roberto estava vivo e que a foto tinha sido uma montagem. Foi quando tive conhecimento de que na retirada tinha proclamado a independência em Ambriz, na mesma razão que levou Savimbi a fazer o mesmo em Nova Lisboa.
O que se passou depois da independência já nada tem a ver com o tema que hoje decidi escrever com o titulo de

Independência … Foi Há 33 Anos.



Saudações e Inté



Comments:
É madrugada e silêncio…


É madrugada
E o silêncio é em mim
Uma constante
Um sentir inebriante
Que me faz caminhar
Descalça
Pela areia junto ao mar
Ao mar que me ensinou
Que é preciso caminhar
Nas madrugadas
Para que nossas almas fiquem livres
Dos grilhões que nos querem impor
Quando os dias despontam...

Caminharei ao pé do mar
Mergulharei nas suas águas
O meu corpo cansado de andar
À procura das minhas raízes
Espalhadas pelo mundo
E sei que jamais as encontrarei
Se não as souber procurar...

Caminharei nele
Até que minha alma doa
Até que meu corpo se condoa
Das minhas peles ressequidas
Dos meus ossos trôpegos
Dos meus cabelos brancos
E do meu olhar vidrado
Cansado
E das minhas mãos
Na areia enterradas!…

Apenas te respondo assim! Em poesia, já que fui expulsa também pelos vendilhões do templo, as bocas podem calar-se ainda com medo mas o nosso grito será imortal quando a justiça se levantar!...

Nada mais posso dizer a não ser que era ali que queria ter o meu futuro sendo tão jovem (tinha 22 anos quando soou o revolucionário 25 de abril, que fez dar a volta a tudo e até pecou por excesso na revolução maravilhosa que fizeram, esses todos que foram vitoriados aqui...! Não, digam o que disserem; jamais lhes perdoarei!... É assim que minha alma sente a ausência da terra que amei!...Ainda amo, mas, nada posso fazer!...
Um abraço com sabor a mar à nossa ilha querida..laura..
Um forte abraço a ti que também sofreste, sei que sim, pois tinhas a tua vida a andar... e era lá que qeriamos ficar, sempre, sempre...Ai angolê!... mama ué!...
 
O k digo é que os responsáveis pela independência de Angola, a
esta hora devem estar nas (PROFUNDEZAS DO INFERNO E OS QUE CÁ ANDAM AINDA,TAMBÉM ONDE IR LÁ PARAR)por tanto sofrimento e maldade que causaram a milhares e milhares de pessoas.

LAMEKING
 
Sexta-feira 6-6-75

De manhã fui até à pensão que ficava na esquina da Rua dos Pombeiros com a da Ambaca para tomar o pequeno-almoço. Depois fui apanhar a boleia para ir para o emprego sito na 5ª Av. da Zona Industrial ali para o Cazenga. Mal entro no carro para ir para a Fábrica rebentou junto a nós (perto do Cinema S. Paulo) um grande tiroteio. Tiros a meia altura passaram a rasar. Foi uma sorte não termos sido atingidos. De súbito vimos uma moça negra a tombar. Nessa altura já tínhamos saído do carro e protegia-me atrás dos pilares do prédio da “Discoteca Trinitá”. As balas batiam no prédio e ressaltavam. De repente tudo parou. Uma mão agitava ao longe, era da moça que tinha sido atingida. Um sujeito ao passar trouxe-a aos ombros até junto de nós. A bala tinha entrado numa nádega. Uma outra pessoa prontificou-se a levá-la para o hospital. Eram ambos brancos. Naquele momento, todos sem distinção de cor deram as mãos e prestaram auxílio a quem dele necessitava.

São 9h30’ da manhã. Devido ao tiroteio não fui trabalhar mantendo-me em casa na Rua do Lobito. De Cabinda chegam notícias. Um avião do Zaire traz refugiados muitos dos quais descalços e transtornados pois não sabiam onde estavam as suas famílias.

Uma granada ouvi a arrebentar. Na rádio a FNLA está disposta a ir até ao fim, ou são aniquilados ou aniquilam o MPLA. Foram aniquilados.

Angola era uma terra-queimada. Mais nada havia a fazer senão salvar as imbambas e zarpar. Por toda a Luanda ouvia-se o martelar dos caixotes. Fui dos que estive desde o Miramar até ao porto de Luanda, para enviar os caixotes e o "Anglia" já que ao Chevron nada se podia fazer. Mas nem o Anglia veio. O pai chorou quando lhe mostrei numa revista, penso que era o Século Ilustrado, e numa foto estava um pretito a lavar o “Chevrolett” e por baixo escrito: «Há que aproveitar os despojos do colonialismo».

Esta é uma das muitas histórias que tanto eu como tu mano passámos nessa terra que nos viu crescer.

Mais histórias haverá para contar; quando fui ao quartel do Cazenga dos “fenelas” libertar trabalhadores da Fábrica que tinham prendido para lhes roubar os haveres, as armas que se me apontaram ao peito e nenhum deles falava português.
Essas histórias ficarão para uma próxima oportunidade.

Em Agosto de 75 mudamos para a Rua António Saldanha da Gama onde ficaste e sabes a razão.

Em Setembro vim-me embora. Levaste-me ao aeroporto. Já todos tinham embarcado faltávamos nós. Tu ficaste com a B..

Tenho-te que dar os Parabéns pela Excelência do texto. Quando um dia quiserem escrever a verdadeira história da descolonização o teu escrito fará parte dessas memórias. O teu olhar sobre o que aconteceu no terreno e o que foi cozinhado entre aqueles que nos atraiçoaram está neste teu depoimento.

Escreves como bem o dizes, sem necessidade de “exorcizar fantasmas”, mas pelo facto de, queiram ou não, fazermos parte da história de Angola.

O curioso disto é que o mesmo partido que era da nossa simpatia foi o mesmo que te prendeu e expulsou de Angola. Mas nessa altura já outros galos cantavam no poleiro.

Um abraço mano.
 
É de testemunhos como este que a História da Descolonização precisa. Para que, inergumeros como o Rosa Coutinho, não sejam considerados heróis. Heróis de quê? Da desgraça de milhares de portugueses? Apesar dos meus 14 anos da altura, também sofri na pele todas estas atrocidades e vi "cenas" que jamais se apagarão. Contudo as saudades da terra que me viu crescer são muitas...
Marius 70 e Leão Verde um muito obrigada pelos vossos blogs.
 
Sem palavras, mas com uma lágrima no canto do olho.......

Obrigada amigo, porque voces conseguem que a n/memória seja sempre reavivada das boas recordações que vivemos numa terra que amamos.

Beijionhos
 
Leo, eu estive lá, eu assisti a pós independência , senti na pele até 1984, e o que se passou antes.A história será a que nós descrevemos aos nossos filhos e é isso que conta. Um abraço Edu
 
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