O Autor em 1973 Nome Leão Verde Localização Norte de Portugal Ver o meu perfil completo Música Angolana
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sexta-feira, 21 de outubro de 2011 Luanda «» Encontro(s) da Noite [II/II]Deixo o carro onde se encontra estacionado e a pé contorno o quarteirão para o Largo do Pelourinho onde àquela hora só os noctívagos e boémios é que por ali deambulam a caminho das várias casas e bares nocturnos existentes na zona; o Nina Bar, o D. Quixote, o Xeique Bar e mais um ou outro. É a magia da noite em todo o seu esplendor. Lentamente circundo o Largo enquanto penso onde ir. O maldito fumo continua a incomodar-me e sinto a garganta a “arranhar” devido à pressão de querer oxigenar rapidamente os pulmões forçando o inspirar/expirar. Decidido encaminho-me para o D. Quixote um cabaré onde só tinha ido umas duas vezes. Não sou frequentador de cabarés pois aprecio mais idas a bares ou boites já que o ambiente é totalmente diferente e onde sempre se encontra pessoal conhecido, a conversa desenrola de forma fluente e participativa e o que tiver que acontecer também acontece. Mas como nesta noite pretendia realmente estar só para ficar acompanhado nada melhor que ir a um bar americano ou a um cabaré. Ao entrar no D. Quixote pergunto ao porteiro como está o ambiente respondendo este que já houveram noites bem melhores e que não vê melhorias dado o clima de alguma instabilidade que se começa a sentir à noite. A informação tenho-a como interessante, olho para as horas que o relógio marca e decido entrar. A intuição, após a informação conjugada com o que já tinha reparado no Cortiço, diz-me que seria mais que provável que alguém poderia querer ter companhia quando na realidade era eu quem a queria ter. Era o tal "feeling" de quem de alguma forma frequenta a noite nocturna. Entro e durante alguns momentos faço o possivel para ficar o tempo suficientemente parado para que a minha presença seja notada. É uma estratégia a aplicar para quem quer ser “visto” e eu pretendia que em mim reparassem. Estava a lançar a minha “cartada” pretendendo encontrar alguém que “pegasse” no jogo. Num estrado, e acompanhado por uma pequena orquestra, um cantor canta uma romântica canção criando a atmosfera para que o ambiente seja o mais sensual possivel, mais envolvente entre os frequentadores e as “residentes”. Ao contrário do Cortiço em que fiquei de pé encostado ao balcão aqui tenho a “obrigação” de me sentar a uma mesa pois foi esse o “estatuto” que criei quando “revelei” a minha entrada. Sento-me e peço um gin tónico à profissional que entretanto se tinha acercado da mesa que, com voz bem timbrada e fresca, pergunta-me se pode sentar-se a meu lado e se peço uma bebida para ela pois quer estar ali comigo e só com o pedido de uma bebida é que isso é possivel. Olho-a, pois ainda não tinha nela reparado, e o que vi e ouvi agradou-me o suficiente para lhe dizer que podia sentar-se a meu lado e pedir as bebidas, a minha e a para ela. Conclui que ela teria “pegado” na minha “apresentação de entrada”, isto é, ter-lhe-ei talvez agradado o suficiente para ela pretender sentar-se à minha mesa e “verificar” o que poderia resultar. Bebidas trazidas, conversas de rotina havidas, dou por mim a pensar que o "feeling" poderia efectivamente traduzir-se em factos e actos reais. Enquanto conversamos alguns pares dançam com os corpos e peitos bem apertados no eterno jogo da sedução. Elas a procurarem as bebidas e/ou o engate, eles a procurarem engatar e levar dali a “dama” para outros “voos”. O interior do cabaré, apesar de com pouca gente, estava quase irrespirável, adensado por uma imensa nuvem de fumo. Luz de meia-penumbra, fumo, musica, bebidas, pista de dança e mulheres profissionais são os ingredientes que compõem o interior de um cabaré em actividade. Para sessões de strip-tease geralmente existe um varão ou uma cadeira, mais esta que aquele, para um show de sensualidade artística que por vezes de artístico nada tem. Por a conversa de interesse nada ter e alguém teria que se manifestar digo à minha acompanhante que não estou minimamente interessado em perder tempo em continuar lá dentro e pergunto-lhe se tem companhia ou se está disponível para que eu seja a dela. Noto-lhe um franzir no sobrolho enquanto os olhos espelham um sorriso interrogativo pelo meu “descaramento” repentista, talvez não muito habitual para ela. Fixo, com olhar de sorriso divertido, o seu olhar prospector como se sondasse o interior das minhas intenções e, após alguns “longos” segundos, levanta-se sem nada dizer regressando logo depois sentando-se de novo. Reparo que seu olhar tem o brilhar do desafio, da aceitação da promessa que em mim teria visto. Diz-me, quase sussurrando, que obteve "autorização" para sair dada a pouca clientela existente, que lhe agradei desde o momento em que me viu à entrada e que gostaria que eu a acompanhasse. Para eu aguardar durante uns momentos depois dela sair e ir ao balcão pagar as bebidas e depois sair naturalmente, mas para reparar se um cliente, tendo-me discretamente indicado qual, não sairia ao mesmo tempo que ela dado tratar-se de alguém com quem ela tinha recusado sair momentos antes de eu entrar. Percebi de imediato a situação e deixei decorrer o tempo que me pareceu necessário para ir ao balcão enquanto constatava que o “negado” não tinha dado pela saída dela e, assim sendo, iria fazer os possíveis para também não dar pela minha saída, já que a tinha visto na minha mesa. Felizmente tudo decorreu com normalidade e o dito cujo não deu pela saída de ambos. Encontro-a um pouco mais à frente, resguardada para não ser vista pelo outro caso ele saísse se desse pela sua ausência, olhamos-nos e sorrimos divertidos com a situação. Pergunto-lhe se está de transporte próprio respondendo que não já que devido à sua actividade era mais prático recorrer a um táxi quando não tinha com quem sair. Digo que tenho o meu carro junto ao Cortiço e para ele nos dirigimos. Já no seu interior pergunto se está com algum apetite para "penicar" e se sim que podíamos ir até à Petisqueira petiscar do que lá houvesse. Verifico que fica surpresa com a pergunta e com a sugestão que avanço olhando-me como se eu fosse uma "ave rara". Esperaria talvez uma outra “pressa” de mim e não um convite daquele género. Responde que sim, que lhe agrada o convite já que há algumas horas nada comia. e que ficaria mais reconfortada pois assim sendo não teria necessidade de ter que fazer fosse o que fosse, mesmo que ligeiro, quando chegassemos ao apartamento. Sorrio interiormente com a surpresa que continuava a proporcionar-lhe e conclui que o jogo estava mais que ganho. Esta minha ultima pergunta e sugestão tinham sido o cheque-mate definitivo. Esta era a minha forma de ser, de estar e de proceder fosse com quem fosse e aonde fosse. Pura e simplesmente eu era totalmente imprevisível, havendo situações em que eu próprio me surpreendia. Esta forma de comportamento não era pensado, premeditado e apenas acontecia no momento em que tivesse que acontecer. Chegados à Petisqueira, um género de tasco mas de bom ambiente e convivo sito ao lado do Nacional e que às 2/3 da manhã se encontra quase sempre repleto devido ao apetite que ataca os noctívagos, taxistas, o pessoal das 2ªs sessões e não só, mandamos vir umas moelas, uns pipis e para rematar um caldo verde para ela. Ela de quem ainda não sabia o nome nem ela o meu. Também eram regras da noite nocturna. Ninguém perguntava o nome pois já se sabia que nenhum dos nomes corresponderia ao verdadeiro. Se as coisas se proporcionassem então naturalmente cada um diria o seu sem necessidade de o outro perguntar. Saciado o apetite pergunto para onde me dirigir tendo-me dito que vivia num apartamento no Largo das Ingombotas. Chegados diz-me para estacionar frente a determinado prédio e entramos. No apartamento, que dava vistas para o largo, após alguns minutos de conversa e de nos pormos mais à vontade pergunto se posso tomar um duche, pergunta que teve o condão de continuar a mantê-la surpresa e perplexa quanto à minha “desenquadrada” forma comportamental de agir. Esta situação também era muito própria de mim e com isso também procurava que a companhia que a qualquer momento comigo estivesse me acompanhasse naquela salutar e higiénica função desde que houvesse tempo (era o fundamental), que no local existissem condições para esse efeito e obviamente se ela estivesse com estado de espírito para me acompanhar nessa acção o que, regra geral, tinha sempre acontecia. Também era uma prática que desde alguns anos atrás tinha começado a ter como que simbolizando “limpar-me” moralmente do acto lavando o corpo sabendo que a alma não o podia fazer, considerando que o sexo circunstancial apenas é para satisfação desse mesmo corpo mas não da alma. Talvez mais pela expectativa do que pudesse acontecer fora do “padrão dito normal” aceitou tomar banho comigo. O escorrer da água, o esfregar dos corpos e o contacto físico fizeram com que a volúpia dos sentidos, do toque e do prazer sensual que os olhares transmitiam derrubassem as barreiras existentes entre dois desconhecidos, envolvendo-nos numa atmosfera de paixão desenfreadamente controlada e limpa de outros preconceitos que não fossem os que nos levaram a estar fundidos num só corpo, num só estado de entrega total, sem regras, sem tabus. A profissional tinha dado lugar à mulher sedenta de obter prazer pelo prazer de também dar. Esse estado do dar e obter também eram, desde que o momento, o ambiente, a envolvência mental e jogos de sensualidade, factores que conjugados propiciavam a procura do clímax para ambos os parceiros. Um outro factor que considerava quase determinante era de procurar não ter que pagar para obter "favores sexuais", embora compreendesse que essa era a essência principal da actividade que profissionalmente estivessem a desempenhar. Era este o único factor que me fazia entrar em determinados jogos de empatia, de sedução, do aquilatar das possibilidades nesses locais diferentes dos comuns do dia-a-dia dos bairros de casas “gerais”. E como “jogador” eu sabia como lançar a “cartada” que podia dar em cheque-mate para a adversária ou em jogo nulo para mim. Mas se no inicio do "jogo" não sabia o que poderia resultar, já a meio tinha a perfeita noção de como poderia ser o final e aí a decisão era minha, a de ir ou não ir. Muitas vezes "perdi" quando na mesma pretendi ir, mas bastantes mais vezes "ganhei", como estava a acontecer na presente situação. Preferia despender o custo nos procedimentos do antes de, que no depois de. Tal como previra quando despertei cerca das 21H00 do dia anterior, sexta-feira, a noite foi longamente longa entrando pelo dia e entardecer de Sábado. Foram feitos os necessários e prudentes intervalos para que os estômagos fossem sumariamente saciados e os corpos tivessem descansos pontuais mas com o factor da lavagem dos mesmos sempre presente. Os banhos ajudavam a que a corrente sanguínea estivesse sempre renovável, num constante afrodisíaco refrescante para a estimulação e despertar dos corpos. Nesse entardecer de Sábado deixo o apartamento e regresso. Agora quero estar só depois de querido ter estado acompanhado. Saudações e Inté segunda-feira, 10 de outubro de 2011 Luanda «» Encontro(s) da Noite [I/II]Luanda. Ano de 1974. Vivo no "meu" novo bairro e rua; Bairro Caop, Rua Dr. João das Regras. Começa a anoitecer. É sexta-feira de um qualquer mês, talvez Outubro ou Novembro, devido ao calor que já se faz sentir. Após mais um dia de trabalho como oficial de diligências no 7º Juízo Criminal tomo um duche retemperador das energias dispendidas e preparo-me para a noite. Mas antes e porque ainda é cedo para ser tarde irei dormitar um pouco para que depois a noite fique tarde para ser ainda cedo. Eram as loucas noites mais que vividas, de dias parecendo ter mais de 24 horas, de directas sem fim. Eram as noites do não amanhã dadas as incertezas que o dia-a-dia transmitia. Eram noites que já me faziam começar a ter saudades do Futuro pois o presente não augurava que houvesse um amanhã a viver harmonicamente com ele. Essa precoce nostalgia do passado presente fazia-me refugiar na noite, noite que a tinha como amiga, como aliada, sendo a amante que me acolhia sem perguntas, sem pretender saber quais outros meus ensejos que não fossem os que a cada momento faziam nela envolver-me. E nesses momentos de busca abria para mim os seus longos e viciantes braços para que neles vivesse e me aconchegasse, deixando que percorrece os encantos e recantos mais recônditos da sua feminilidade. Antes de me estirar vejo e admiro o crepúsculo tingido de tons raiados avermelhados/alaranjados como se um arco-íris de mil cores se tratasse a imergirem na imaginária linha do horizonte na exuberância do entardecer. Deito-me com esse belo quadro paisagístico a bailar-me nos olhos antevendo que a noite irá ser aluarada, de uma beleza reluzente e prateada que banhará Luanda em todo o seu esplendor. Acordo perto das 20H30 e sinto-me desperto, vivo, com desejo de ter que estar com alguém, de me envolver com a noite nocturna. Tomo mais um duche ligeiro com água fria para sacudir o torpor que invade o corpo enquanto trauteio "The Green Leaves Of Summer" dos »The Brothers Four«, canção que desde sempre apreciei. Lentamente visto-me ao mesmo tempo que mentalmente percorro o mapa de restaurantes e de snacks onde poderei ir jantar mas sem nenhuma preocupação de qual será pois sei que só no momento próprio o saberei. Dado o “estado de espírito” com que despertei sei que a noite irá ser longa, muito longa já que ...hoje quero estar só para poder estar acompanhado... Entro no meu Morris Mini Cooper de côr verde da 7up, companheiro de muitas e muitas andanças apesar de apenas o ter desde Julho, e arranco sem destino pré-definido. Percorro o que resta da rua Dr. João das Regras, entro na de Gil Vicente, depois Paiva Couceiro, viro para a Mouzinho de Albuquerque, circundo o jardim frente ao cemitério do Alto das Cruzes e paro no cimo do Eixo-Viário. Saio do carro e contemplo a cidade iluminada. O olhar extasia-se arrebatando-me o espírito como se sempre visse Luanda pela primeira vez e um sorriso de paz interior percorre todo o meu ser. Ao fundo vejo o Cine Kipaka, o Clube Ferroviário, a igreja da Nazaré, mais para a direita o terminal ferroviário do Bungo e, já a perder de vista, o inicio do Bairro da Boavista. É uma vasta área com pouca iluminação em autêntico contraste com todo o percurso do eixo-viário. Vislumbro ainda o Palácio de vidro e o porto de Luanda. Percorro o olhar e vejo na baía o reflectir dos tons luminosos e multicolores dos vários reclamos que espalham as suas tonalidades pelas águas calmas enquanto dezenas de automóveis lentamente circulam na marginal, assim como em ambos os sentidos da estrada da ilha, deixando um rasto luminoso como se de pirilampos de luzes tremulando se tratassem. Deixo-me estar um pouco mais inebriando-me com os cheiros que a terra liberta por acção do arrefecimento nocturno em choque térmico com o calor que durante o dia se fez sentir ao mesmo tempo que uma suave e refrescante brisa me acaricia o rosto fazendo-me sentir bem pelo bem-estar que me proporciona. Sinto-me o “senhor do mundo” por Luanda ser o meu mundo, eu a ela sentir pertencer e parte dela estar naquele momento a meus pés abrindo caminhos para que a percorra sem receios. Inspiro mais um pouco dos segredos que do ventre da terra se libertam entro no Morris e maquinalmente olho para o mostrador do meu ENICAR que, para além dos ponteiros, também indica o dia de semana e de mês e verifico serem cerca das 22H10. Percorro a Av. Mouzinho de Albuquerque até ao Quinaxixe, entro no Largo da "Maria da Fonte" contornando-o no sentido dos Combatentes e estaciono junto ao Apolo XI. Tal como já era previsivel só no momento próprio é que saberia qual o restaurante ou snack onde iria parar para jantar. Era um método não programado que já fazia parte da minha rotina de pensamento pois raramente idealizava um qualquer lugar antes de a ele chegar. O Apolo XI é um restaurante que também costumo frequentar antes de me iniciar na noite; tem bom ambiente, bom atendimento, é climatizado e iluminado q.b.. Vejo algum pessoal conhecido que acenam para na mesa deles me sentar mas faço sinal de que pretendo estar só. Peço um rosbife, prato padrão sempre que ao Apolo XI vou, e uma meia Casal Garcia bem fresca. Hoje não estou para a "minha" Nocal e um suculento e tenro rosbife é sempre agradável ser acompanhado com vinho branco bem fresco. Levanto o copo numa saudação aos presentes, conhecidos e desconhecidos, e “mergulho” literalmente os talheres no rosbife. Aprecio o sabor da carne no meu palato enquanto circundo o olhar pela sala que se encontra mais cheia que vazia. É um bom ponto de encontro para alguns jovens namorados, para outros que como eu também fazem do Apolo XI o seu ponto de partida para as várias etapas da noite, assim como para casais mais maduros que têm algum requinte na escolha de restaurante. Como sobremesa peço um S. Marcos, um semi-frio simplesmente divinal, e após o café recosto-me com prazer no espaldar da cadeira enquanto verifico que os meus conhecidos abandonam o local saudando-me com a palma da mão. Olho de novo para o relógio e os ponteiros mostram serem umas 23H20. Ainda é cedo e a noite verdadeiramente nocturna está no seu início. Peço a conta, pago e cá fora verifico a passagem de bastantes transeuntes, mais que o habitual para aquele lugar e aquela hora. Concluo que deveria ter terminado a sessão de cinema nos SMAE e momentaneamente entro em reflexão e a nostalgia apodera-se de mim remetendo-me para alguns anos atrás em que, juntamente com meus pais e irmãos, frequentava com bastante assiduidade os SMAE, quer como cinéfilo quer participando nos concursos do programa de entretenimento "Passatempo", programa que era conduzido por Rui Urbano e Fernanda Ferreirinha. Devido à essa frequente assiduidade meus pais, eu, e meus irmãos Mário e Alfa tínhamos-nos tornado sócios garantindo dessa forma a obtenção de outro estatuto que permitia termos sempre lugares disponíveis e bilhetes/sócios. Abano a cabeça como que a querer "sacudir" as recordações desses tempos idos e dirijo-me para o carro. Desço a Vasco da Gama e já na Mutamba estaciono por detrás da Fazenda Nacional. Quero andar um pouco para relaxar, ordenar ideias, para ver gente e sentir o pulsar da cidade. Lentamente percorro a Pereira Forjaz viro para o Quintas & Irmão observando mais quem está a ver as montras que eu por elas me interessar. No cruzamento da Rua Salvador Correia com a Calçada do Municipio e quase frente à Maria Armanda, um pronto-a-vestir, o reclamo do Hotel Globo ilumina a sua fachada principal enquanto viro para a esquerda, deparando, a meu lado direito, com a Pastelaria e Confeitaria Paris. Pausadamente continuo até ao largo do Palácio do Comércio, vejo alguns poucos passeantes junto ao estabelecimento de pronto-a-vestir Espelho da Moda e desisto de continuar. Retrocedo e os néons continuam firmemente e intensamente a espalharem a sua luminosidade multicolor em acréscimo à luz publica. Olho para dentro da Biker e verifico que as mesas dos jogos de bilhar estão quase todas ocupadas enquanto ao balcão meia dúzia de clientes refrescam as gargantas com o néctar dos bem tirados finos ou de canecas com cerveja. O Largo da Portugália apresenta uma população flutuante bastante assinalável para a hora que é pois já se está na primeira hora de sábado, dia de trabalho para bastantes deles e também pela circunstância de se estar perante a presença inibidora de alguns elementos pertencentes aos movimentos de libertação pese a verificação de algumas patrulhas do exército português. Estava-se na indefinição sobre o que poderia vir a ser o futuro de Angola e dos portugueses nela residentes. Dirijo-me para o carro através da Rua Sousa Coutinho e rumo para os lados do Sporting Clube de Luanda/Coqueiros. Já sei por onde começar a noite para estar acompanhado. Entro no “O Cortiço”, um bar americano que aprecio frequentar mas mais ao entardecer que à noite, e já dentro encontro o ambiente do costume; semi-penumbra, fumo até ao tecto e alguns clientes. Os sentados a serem “tentados” pela conversa das chamadas "alternadeiras" enquanto os em pé encostados ao balcão sorvem em pequenos goles uma bebida qualquer mas com olhar de lince “espetado” nalguma delas. O esquema é o habitual; se algum cliente dos que se sentam às mesas chama uma das profissionais para junto dele estar já sabe que para além de consumir é tentado a pagar-lhe uma ou outra bebida ou ainda a abrir uma garrafa de espumante ou whisky sendo, neste particular, a “comissão” dela bem mais interessante. As profissionais estão proibidas de beber da bebida do cliente e as que elas consigam obter são uns sumos ou uma espécie de chá que são pagos como se fossem bebidas de outra categoria. Depois há o “jogo do engate” mantido por elas até conseguirem o que pretendem do cliente, mais bebida(s) ou a tal garrafa de valor acrescentado. Os que se recusam a pagar alguma coisa é certo e sabido que a alternadeira não irá perder mais tempo com ele ... ""não paga, não tem direito a companhia"". O trabalho delas é, enquanto lá dentro, o de conseguirem fazer com que o cliente consuma o mais possível e dê a consumir. Qualquer outro “cenário” mais intimista é para fora de portas e depois do horário. Regra geral é um pouco difícil algum cliente ter um “programa extra” a não ser que se mostre bem endinheirado e, mesmo assim, sem ter a certeza de que irá ter essa “sorte”. É que a maioria delas têm os "seus controladores" mas cheirando a bom dinheiro os "protectores" não se importam que elas possam com outros sair tanto mais que irão usufruir mais tarde do "rendimento extra" por ela conseguido. A musica ambiente proporciona que alguns casais dancem numa pequena pista e enquanto eles segredam algo aos seus ouvidos elas riem de forma provocatória e com olhar malicioso em que prometem o paraiso na terra. Tudo, ou quase tudo, vale para “ajudar” a depenar o folgazão no máximo que cada uma possa. Encostado ao balcão, uma das minhas características, peço a habitual “cuba libré” [uma outra bebida preferida nestes ambientes é o “gin tónico”] e observo todo o cenário procurando vislumbrar alguma com quem possa trocar alguns sinais "tipo morse". Há também este tipo de esquema em que um cliente pode “combinar” um encontro para depois da saída sem ter que se sentar ou ter que pagar algum copo mas sem que o responsavel da sala se aperceba. Para que a “empatia” resulte é necessário que ela fique “agradada” por aquilo que potencia ter visto no cliente. Regra geral quando acontece acontecer este tipo de “sinais empáticos” ela vai mais por ter "engraçado" com o cliente e do que pensa obter dele pelo contacto físico que pelo usufruto monetário, embora, como é obvio, este seja a realidade primeira. Embora a muitos homens possa custar a admitir, no campo da concretização dos desejos é sempre a mulher quem decide. Só há contacto se ela quiser, seja porque motivo, a não ser que exista algum tipo de coacção física ou psicológica por parte do homem. Pessoalmente sempre admiti esse pensamento filosófico de que "elas é que decidem" e nunca me desiludi pois obtive sempre (quase) o que pretendia. Nessa adaptação às regras e dando a entender-lhes que elas é que “decidiam” acabava por ditar as regras do jogo e quem acabava sempre por decidir era eu. A regra mais predominante era aperceber-me que elas queriam e nesse caso eu só tinha que fazer simplesmente o papel do “não quero”. A tal estória do fruto não conseguido ser o mais apetecido mas que na noite nocturna dá para ser "jogado" pelos dois géneros e não apenas pela parte feminina. Este jogo do "não" requer algum andamento e experiência nocturna e essencialmente saber fazer muito bem o “bluff”. Embora novo, tenho apenas 23 anos, sei como o fazer e como o "rentabilizar" em proveito próprio. No mundo da noite é preciso saber nele andar e como andar. É um pouco complexo e por vezes um pequeno descuido pode ocasionar grande "maka", chamada da policia e proibição de entrada em estabelecimentos para o(s) prevaricador(es). Para além de tudo há também os clientes que se "embeiçam" e se a que deseja não lhe dá “esperanças de saída” mas ele verificando que há existência de sinais ou outros truques de um outro e que ela corresponde, o mais certo é estarem criadas as condições para a situação descambar. Nada de interessante vejo embora tivesse reparado no olhar mais “incisivo e interrogativo” que uma “já conhecida” me tinha lançado. Envia-me um sinal de "se a procuro" obrigando-me a responder com um trejeito de boca e olhos de que apenas fui beber um copo, passar um pouco do tempo e nada mais. Percebeu, fez um sinal de resignação género de "as noites já não são como eram" e senta-se. Pouco depois verificando a não existência de alguém que me faça estar lá mais tempo saio daquele ambiente asfixiante de fumo e de já não interesse. Cá fora respiro profundamente para oxigenar os pulmões e procuro arejar a roupa para que algum cheiro do tabaco entranhado se liberte. [continua] |