O Autor em 1973 Nome Leão Verde Localização Norte de Portugal Ver o meu perfil completo Música Angolana
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domingo, 25 de janeiro de 2009 Relembrar o Carro da TIFARelembro, mais uma vez, que Todos os Reviveres do meu blog se enquadram desde Fev./Mar de 1962, ano em que “desembarquei” em Luanda, até Novembro de 1975, ano da independência. No entanto, e em alguns casos, essas minhas “estórias/relembrares” vão desde o intervalo de Nov. de 1975 até Nov. de 1977, mês/ano em que fui Expulso de Angola. Em Angola existem apenas duas estações; a "Estação Seca", conhecida por “Cacimbo” e que vai de Maio a Agosto, e a "Estação das Chuvas" nos restantes oito/nove meses, em que o tempo é mais quente, atingindo a sua plenitude em Dezembro, Janeiro e Fevereiro. Uma das razões pelas quais as festividades natalícias em Luanda não terem a mesma "força" que noutras latitudes europeias, nomeadamente Portugal, é a de o pessoal estar em Dezembro mais interessado em ir para as praias, dar uns mergulhos nas ondas das águas quentes do Atlântico e retemperar energias estendendo-se nas suas areias douradas e macias. Também no chamado "Cacimbo" vai-se por vezes à praia mas falta, nalguns casos, a coragem para se mergulhar ou nadar, por se sentir a água fria demais, apesar da sua temperatura poder rondar os 18 graus. Época das Chuvas. Luanda "sofre" a intensidade das chuvas tropicais. Apesar de ser uma capital em franco progresso, Luanda, como cidade africana que é, tem graves problemas de saneamento e de salubridade. Angola é um país subdesenvolvido ou em vias de desenvolvimento e tem por isso as suas carências próprias. Os musseques detêm bastante concentração humana e não existem os bons hábitos de higiene e salubridade pública, a par da total inexistência de qualquer tipo de saneamento básico e a existência de várias lixeiras a céu aberto. As águas de dejectos e das chuvas ficam acumuladas durante vários dias nas vias públicas, formando autênticos chiqueiros propícios ao aparecimento de doenças, tais como a cólera, a malária ou paludismo, estas provocadas pelos mosquitos. As entidades sanitárias de Luanda mantêm-se no entanto atentas e a população é avisada e sabe como poder combater um possível surto epidémico. Uma das formas de "combate" é o de tomar um comprimido de cor amarelada, o quinino. Comprimido na mão, copo de água noutro e toca a meter para o "buxo" o combate à doença. A outra forma é o combate através da intervenção do ………………… Aqui dou inicio a mais um relembrar, um recordar. Rua do Vereador Prazeres, no Bairro de S. Paulo, que considero ter sido a "minha" rua apesar de de ter ir ido posteriormente viver para a Rua do Lobito, no mesmo bairro. As chuvas tinham deixado de cair há alguns dias. No ar paira o cheiro intenso da terra avermelhada que se vai "libertando" da água entranhada no seu ventre. O Sol escalda, a terra seca e cria uma nuvem empoeirada. As moscas e os mosquitos aparecem em grande quantidade. O comprimido de quinino é tomado como prevenção, mas algo mais terá que ser feito para combater a praga que o mosquito do paludismo ou malária podem provocar nas populações. O Bairro de S. Paulo é quase todo asfaltado. Apenas uma ou outra rua menos concorrida é em terra batida. As ruas do Bairro Operário, do musseque Marçal e do Sambizanga (Sambila), que fazem uma espécie de cintura em volta do Bairro de S. Paulo, são praticamente em terra batida. Uma gritaria "infernal" vinda do Bairro Operário precede um outro som já pelos S. Paulistas conhecido. Kandengues, descalços uns, meios calçados outros, com camisas abertas e em vários tons, lembrando asas esvoaçando, correm e os seus gritos e risos juvenis de gargantas "escancaradas" são um "quase" sinal para os habitantes daquela "minha rua" e de todo o Bairro de S. Paulo. As donas de casa "avisadas" pelos gritos da miudagem abrem as portas e janelas das casas. Tudo quanto é porta ou tem dobradiça é aberto. Ansiosamente aguardam a passagem do ..... Após algum tempo lá vem ele … o carro fumigador. Pachorrento, lento, desempenhando com alguma "tristeza" o "papel" para que os homens o votaram. Das "entranhas" do seu corpo arredondado e volumoso "vomita" um desinfectante, um agente químico, o DDT. É o carro da “TIFA". Um cheiro a acre invade os bairros, a cidade. O nevoeiro esbranquiçado e o cheiro acre que deixa são bem-vindos pela população de Luanda, já que os carros fumigadores percorrem as ruas borrifando desinfectante por toda a cidade, dias após as chuvadas terem acontecido. É o inicio da desinfestação, da matança dos insectos nocivos à saúde dos humanos e dos animais. Se alguma dona de casa está por ventura mais distraída logo é avisada pela vizinha … vizinha, lá vem o carro da TIFA. A vizinha agrade e imediatamente abre as portas e janelas de sua casa, deixando nela entrar aquele fumo desinfectante. Quando o carro da TIFA percorre a cidade a população abre portas, janelas e até os pulmões para "receber" aqueles agentes químicos. Os kandengues, que alegremente correm atrás do carro da “TIFA” , recebem directamente o DDT, pondo em risco a sua saúde. Mas penso que todos são inocentes daquele conhecimento. Penso que eles poderão pensar que absorvendo aquele "fumo" ficarão "imunes" à picada do mosquito. Até acredito que as autoridades sanitárias não tenham talvez pensado nesse pormenor. A lógica é o de "salvar" anualmente a população da possível praga. Aquele é o outro meio, talvez o mais eficaz, para se combater a provável epidemia, tendo como comparação a toma do quinino. Dentro deste cenário, quando o carro de um amigo deita pelo escape mais fumo que o habitual é motivo de gozação e o pessoal, num tom de risota e de boa disposição comenta, … olha…olha, até parece o carro da TIFA. Saudações e Inté |