O Autor em 1973 Nome Leão Verde Localização Norte de Portugal Ver o meu perfil completo Música Angolana
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quarta-feira, 16 de setembro de 2009 Joana "Maluca"Hoje irei procurar retratar o melhor possivel, dentro do registo que dela tenho na minha memória, uma das personagens mais populares de toda a Luanda, a Joana “maluca”. Joana "maluca" era vista a percorrer quase toda a cidade, mas sabia-se que percorria com mais incidência o “meu” Bairro de S.Paulo, o Bairro Operário, o Marçal e o Sambizanga (Sambila). Quando a miudagem a avistava era a gritaria infernal …. “Joana maluca”, “Joana maluca” …. e começavam a atiçá-la correndo de um lado para o outro, fazendo com que ela fugisse ou se lançasse em correria desordenada sobre eles com um pau nodoso a fim de os afugentar. E não se detinha em dar com o pau nalgum miúdo(a) que não fosse mais lesto(a) na fuga. Quando para eles corria lançava pragas terríveis e a dado momento parava, fazia com o pau uma cruz no chão e de seguida cuspia sobre ela. Nunca percebi a razão de tal gesto/acto, nem nunca ninguém mo soube explicar. “Coisas” da mente perturbada de Joana, talvez com o significado que só ela poderia saber. Mas o que a maioria das vezes a miudagem aguardava era quando, depois de muito “xingada”, a Joana “maluca” levantava as suas pobres e sujas saias e sem cuecas mostrava as suas intimidades, as suas partes baixas, enquanto dizia …”querem ver cinema à borla, querem”…, sendo este gesto a sua "imagem de marca". Esse gesto fazia com que a miudagem ficasse mais atrevida, começando de novo a troçar e a rir dela, e lá tinha a Joana “maluca” que deles fugir. Depois invertia-se o filme. Eram eles a fugir quando ela, já desesperada e não sabendo como deles se desenvencilhar, parava, olhava-os e "partia" para cima deles com a ameaça do nodoso pau. Poder-se-á dizer que cada uma das partes sabia qual o “papel” a desempenhar naquele acto. Por vezes os adultos intervinham em socorro dela, já que a miudagem ficava chata e não sabia quando parar. Cabe-me aqui dizer que nunca me meti com ela, assim como meus irmãos. Não por medo ou receio mas pura e simplesmente porque a nossa forma de ser e de estar não era virada para esse tipo de comportamento. Verdadeiramente nunca soube a razão dela ser “maluca”. Lembro-me de sempre ter ouvido dizer que era uma rapariga atinada, com juízo, e de duas versões para que o deixasse de ser. A primeira versão é que teria sido uma boa, inteligente e esforçada aluna, com grau académico já avançado, mas que de tanto estudar teria tido um esgotamento que a levou àquele estado de demência. A segunda versão foi a de que lhe teria subido um parto à cabeça. Sobre esta versão ouvi ainda dizer que teria tido uma filha e que esta estaria entregue aos cuidados da Missão. Não sei se alguma das versões será a verdadeira, ou se não terá havido uma outra de todos desconhecida. O certo é que a Joana “maluca” existiu nas condições de vida e miséria que teve e envolta nesse mistério. Lembro-me que andava sempre descalça, suja, desgrenhada, piolhosa, com roupa estragada enrolada no seu magro corpo, e o rosto sulcado por rugas bem vincadas que atestavam a sua vida degradante e errante, enquanto os pequenos olhos inquietos faiscavam face ao terror que a miudagem e a gritaria lhe infundiam. Via-a a apanhar beatas caídas nos passeios, nas ruas e algumas vezes alcoolizada. Raramente a vi a estender a mão à caridade, mas quando lhe davam alguma peça de roupa rasgava-a pois era assim que queria ver a roupa no seu magro corpo. Não havendo miúdos e nalguns casos outros mais graúdos a meterem-se com ela, era uma paz de alma. Passava, recebia ou não o que lhe dessem e seguia o seu caminho. Teria uns 14 anos quando esse momento aconteceu. Morava então na Rua do Vereador Prazeres,nº 14, no “meu” Bairro de S.Paulo. Estava sentado com a minha irmã mais velha e uma vizinha dela (não me lembro quem) num banco de cimento que ficava na entrada para as casas interiores do Sr. Mota e encostado à pensão da D. Fernanda??. Era o chamado "banco da má-língua”, assim baptizado pelas suas “frequentadoras”. Estavam ambas entretidas a “afiar a lingua” quando vimos a Joana “maluca” aparecer do outro lado da rua, no sentido Sambizanga/Bairro Operário. A Joana viu-nos e parou no meio da rua, talvez “admirada” de não aparecerem miúdos a meterem-se com ela, como era habitual. Nós observamo-la e estava ela a olhar para nós quando a minha irmã teve uma “ideia luminosa”. Chamou-a, ela veio, e quando estava mais ou menos a um passo de nós diz a minha “atrevida” irmã … "Oh Joana! Tás a ver o meu mano que é tão bonito e loirinho e não lhe dás um beijo"!! Penso que fiquei tão "surpreso" com o que ouvi que nem sequer tive tempo de reagir. A Joana “maluca” chamou um "figo à proposta” e num ápice debruçou-se sobre mim, que continuava sentado, segurou-me o rosto entre as mãos e deu-me um valente e sonoro beijo enquanto minha irmã desatava rir que nem uma perdida. Terá ficado tão surpreendida com o facto que a única reacção que teve foi rir, rir, até perder o fôlego, pois por certo que nunca contou que a Joana “maluca” aceitasse o seu "convite". Bom, quem saltou e saiu do banco a correr que nem maluco fui eu, pois ao receber o INESPERADO beijo da Joana “maluca” também “levei” em cheio com todos os hálitos e odores que a sua boca e corpo exalavam. O que sei foi que a partir daquele dia, sempre que via-a a aparecer, resguardava-me o suficiente para não mais me deixar surpreender. E diziam que era “maluca”. Maluca, uma treta. Naquele dia e naquele momento não o foi, ou não o quis ser :)) Assim, com mais uma das estórias das minhas vivências, lembrei e recordei alguém que foi uma das figuras mais carismáticas e emblemáticas de Luanda, a Joana “maluca” da minha infância. Saudações e Inté |