domingo, 26 de julho de 2009

 

Casamento «» Foi há 34 Anos


** Carmelo Pagano - Torna Con Me **


Esta foi a canção/música que decidimos ser a Nossa.
Ouvíamo-la sempre que era possível e dançávamo-la por diversas vezes, pois era obrigatório que ela fosse tocada onde estivéssemos, desde que eu “controlasse” o panorama musical como "DJ".
Recuperei-a para abrir este tema, para me “levar” ao dia 26 Julho 1975.
34 anos atrás este dia de calendário foi num Sábado.

** Hoje é Domingo **

Hoje, dia 26 Julho 2009, Rememoro um Acontecimento Iniciado às 15H30do Dia 26 Julho 1975

«»*«»* HOJE COMEMORAMOS 34 ANOS DE CASAMENTO *«»*«»

** no interior da Igreja S. Paulo **

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Ano da graça de 1975. Luanda, capital de Angola.
Viviam-se desde há alguns meses momentos bastante agitados e conturbados em Luanda, assim como em quase toda a Angola. O golpe militar de Abril de 1974 desencandeou uma série de acontecimentos dos quais resultaram, em relação a Angola, os Acordos de Alvor em Jan./75, em que foi acordada a independência de Angola para o dia 11 de Novembro desse ano, precipitando o que desde sempre se soube que seria mais que previsível; a guerra sem tréguas entre os movimentos de libertação, MPLA [FAPLA]; FNLA [ELNA] e UNITA [FALA]; (entre parênteses a denominação dos seus exércitos).

A UNITA e a FNLA entrados em Luanda em Junho/Julho de 74 e o MPLA em Nov. do mesmo ano travavam lutas fratricidas e destrutivas para controlo de Luanda, a capital de Angola, a capital do poder politico para a independência. O 11 de Novembro aproximava-se e os diversos Acordos assinados pelos três movimentos iam deixando de ter valimento à medida que a ambição do poder unilateral cegava os dirigentes máximos de cada um dos movimentos, quais marionetes dos países que militarmente e logisticamente os apoiavam em prol dos seus interesses expansionistas. Era essencial controlar Luanda para legitimar o poder politico. Para isso era necessário obter e consolidar de forma absoluta a tomada de Luanda, capital da ainda “Província de Angola”, futura capital do novo país que no quadro geográfico africano iria nascer. Esse poder politico absoluto só seria possível com a retirada dos outros dois movimentos. Fossem quais fossem.
Por esse motivo a guerra era feroz, sem tréguas e sem regras. Cada palmo de terreno era um ganho ou uma perca para cada uma das forças beligerantes.
Nas respectivas emissões de rádio ouvia-se da parte da UNITA... aos nossos inimigos (MPLA) nem um palmo de terra; respondendo o MPLA que... aos nossos inimigos (UNITA e FNLA) muitos palmos de terra... em cima.



Centenas de Milhares de portugueses e de angolanos fogem do terror instalado por toda Angola. Mata-se e morre-se sem se saber porquê e sem porquês. Luanda é uma cidade apavorada. A UNITA agora fortemente apoiada pelos E.U.A, através da África do Sul, a FNLA apoiada pelo Zaire e o MPLA pela URSS e instrutores cubanos, adquiriam dia a dia mais poderio em equipamento militar, tornando quase insuportável o dia-a-dia em Luanda.
É neste cenário de total desnorte que dois jovens, ele com 24 anos e ela com 22, conversam e decidem ficar para continuarem a viver na terra que consideram como sendo a sua. Procuram solidificar essa ideia do ficar através do casamento. Inicialmente marcado para o dia 19 de Julho de 1975, o casamento, a ter lugar na Igreja de S. Paulo, teve que ser adiado devido à intensificação da guerra entre os movimentos.

** padrinhos do casal - meus pais e Carlos/Lurdes **


Na sequência de uma operação com armamento pesado e numa acção mais alargada levada a cabo pelo MPLA no fim-de-semana anterior à do dia 19, as FAPLA destruíram literalmente quase todas as bases da FNLA na região da cidade de Luanda, atacando com morteiros e mísseis terra-terra os aquartelamentos dos ELNA, assaltando-os e incendiando-os de seguida. Na Avª. dos Combatentes, na zona alta da cidade e por quase por toda a cidade travam-se combates ferozes, quase corpo a corpo. As forças do MPLA, fortemente apoiadas no terreno pelo poder do armamento enviado pelos camaradas soviéticos e instruídas pelos companheiros cubanos, assim como com o comprometimento do “almirante vermelho” que colocou à sua disposição diversa quantidade de arsenal do exército português, começam a controlar e a patrulhar com tanques de guerra praticamente toda a Luanda.
Ao mesmo tempo milhares de pessoas vindas das zonas suburbanas da cidade, as mais flageladas pelo tiroteio, procuram abrigo no interior da cidade/capital.
Nesse sangrento fim-de-semana calcula-se que tenham havido largas centenas de feridos e mais de 200 mortos, muitos dos quais, por falta de espaço no interior das morgues, ficaram amontoados nas entradas.



Tendo por fundo esse cenário e pela insegurança reinante foi decidido pelas partes envolvidas [igreja e noivos (nós)] adiar por mais uma semana o casamento, passando do dia 19 para o dia 26 Julho, caso no decorrer dessa semana se verificasse a existência de um mínimo de segurança para o fim em vista e, logicamente, se ainda estivéssemos vivos. Felizmente naquele dia 26 o acto solene pôde ser concretizado, em conjunto com um outro casal que também tinha agendado o matrimónio para esse mesmo dia.

** Pe Paulo e o outro casal **


Enquanto decorria a cerimónia conduzida pelo padre capuchinho Paulo ouvíamos no exterior fortes rajadas de metralhadora e morteiradas como sequência do conflito armado ainda em curso. O padre Paulo, procurando desanuviar alguma preocupação, disse a todos os presentes para manterem a calma, o que sucedia, pois tiros e morteiradas faziam parte do dia-a-dia de quem vivia em Luanda. Soube, no dia seguinte, que o MPLA tinha dirigido um ataque a uma Delegação da FNLA que se situava bem no coração do Bairro Operário.
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Para além de poder apenas procurar hoje simbolizar o 34º Aniversário do casamento, é obvio que teria que ter também uma estória para contar, “justificando” assim a razão do nome deste blog Reviver Estórias.
Nada melhor que em vez de a estar a descrever através da escrita a mesma ser contada em directo e a cores pelo próprio interveniente EU).

Para ouvirem e verem será só colocar em stop a música de abertura do tema, clicarem no quadro abaixo e………….



Ouvida a estória daquele meu momento que antecedeu o casamento (agora considero ter sido delicioso), poderão, se assim o entenderem, clicar em Play, e continuarem a ouvir a música do tema enquanto seguem a leitura da restante estória.



"Não tive tempo no programa para contar como é que me “desenrasquei" para fazer o famigerado nó da gravata". Simplesmente não o fiz. Meti a gravata no bolso e depois de ter chegado à igreja foi meu pai quem no adro fez o nó, tal como o fazia em anteriores situações. Tirou a gravata dele, colocou a minha no seu pescoço, fez o nó e, depois de feito, colocou-a no meu pescoço. Simples e nada complicado … para ele, está claro.
O copo de água, organizado pela D. Gisela, que trabalhava nos escritórios da Sulcine (Miramar) e era colega da agora minha mulher, decorreu nos jardins de uma vivenda da Cidade Alta.

** clicar para ampliar **
~~ Engº Fernando (representante da Sulcine) e D. Gisela ~~


Tivemos que acabar cedo com a farra do casamento já que às 21H00 começava o recolher obrigatório que ia até às 6 horas da manhã do dia seguinte. Mais um momento marcante desse dia de casamento.

** clicar para ampliar **
** cunhado Beto e mano Mário **


Nessa época eu trabalhava nos escritórios da Samil (representante da Peugeot) que se situavam um pouco antes do início da Estrada para o Cacuaco. Tinha deixado recentemente de ser oficial de diligências na 2ª Vara Cível de Luanda, sita na Rua Sousa Coutinho, pois os tribunais começavam a ser alvo de alguns atropelos e fui aconselhado a sair antes que a situação se complicasse, uma vez que tinha decidido ficar.

** clicar para ampliar **
** o indispensável “ataque” à gravata e a brindar com meu colega Victor?? da Samil **


O copo de água decorreu da melhor forma possível e a música de abertura da dança só podia naturalmente ser o “Torna Con Me”, musica de fundo deste tema. Foi o meu mano Márioquem colocou o single e a fez tocar para que o casal (nós) dançassemos a nossa canção, pois foi essa a melodia que quisemos que fosse para a abertura do baile do nosso Casamento.



No dia seguinte, Domingo, acordamos a meio da manhã e fomos para a praia. À tarde regressamos e na Segunda-Feira fomos trabalhar. Tínhamos muito tempo para a famosa Lua-de-Mel. Estar e ficar em Luanda/Angola já era o suficiente.
O Futuro estava à nossa frente e era preciso Ganhá-lo.
E nós tínhamos ficado para que isso fosse uma Realidade.

** Façam o Favor de Serem Felizes **


Saudações e Inté

nota;Luanda resistiu e o MPLA em Agosto de 75 expulsa definitivamente a Unita e a FNLA. Através da acção militar ganhou o poder político.




domingo, 5 de julho de 2009

 

Recital de Piano


»»Clicar para Tocar««

** Alberto Cortez – Las Palmeiras **


Cá estou para contar mais um momento das minhas vivências, mais uma estória, hoje relembrada com outro sabor, com outro “gozo”, com outro “olhar”.
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A partir mais ou menos de 1965 Luanda começou a crescer de forma desmesurada. Crescia em altura e espraiava-se para zonas não previstas no seu ordenamento.
Nos Combatentes, Luís de Camões, Samba, Bairro Prenda, Praia do Bispo, Corimba, Bairro de Stª. Bárbara, Bairros Populares nº1 e nº 2, Bairro Sarmento Rodrigues, Cuca, Terra Nova, enfim, por toda a Luanda os prédios surgiam como cogumelos; os bairros alargavam as suas fronteiras, novos, modernos e funcionais hotéis, cinemas e casas de espectáculos eram construídos.
Luanda era uma verdadeira capital cosmopolita e multirracial. As suas artérias eram percorridas por diversas raças, diversos credos, diversas nacionalidades. Luanda era o centro de todas as atenções exteriores. Era a cidade que mais crescia, que mais se desenvolvia e se modernizava em TODA a África.
Dentro deste panorama a sociedade luandense aburguesou-se, começou a ter “tiques” de modernidade evoluída e sentiu a necessidade de ter um outro espaço de âmbito cultural mais atraente, mais moderno, mais funcional, onde a arte, a dança, a música, o teatro e outras representações similares pudessem ter um palco digno para as diversas variantes marcadamente culturais.



O único espaço do género existente, o “velhinho” Cine-Teatro Nacional, já não correspondia às novas exigências, às novas concepções que os empresários procuravam ter para a montagem dos seus espectáculos.

Assim é construído o TEATRO AVENIDA


Praticamente toda a minha vida, enquanto ligado ao mundo do trabalho, teve sempre a baixa de Luanda como destino, tendo acompanhado, de certa forma, o “nascimento” do Teatro Avenida.
Situado na Av. dos Restauradores de Angola, o Teatro Avenida foi construído a partir dum antigo quartel de bombeiros existente naquele local nos anos 1967/1968.
Na altura eu estaria a trabalhar no Alfredo F. Matos ou na oficina do Sr. Brito, sita na Rua de D. Francisco Soveral, por detrás (+-) do Baleizão.
Inaugurado, penso que em 1968, com pompa e circunstância, aquela excelente estrutura logo se tornou o espaço “coqueluche” da ávida société luandense. Com programações aliciantes e de longa temporada, o Teatro Avenida estava quase sempre com lotação esgotada durante várias semanas.
Naturalmente que o T. Avenida começou a ser o centro, o pólo de atracção e das atenções domésticas. Era “chique” ser-se visto(a) no T. Avenida num qualquer espectáculo, para no dia seguinte no salão de chá do Hotel Trópico, onde trabalhei durante 2 (DOIS) longos e penosos dias (talvez um dia conte essa minha “nobre” e “espinhosa” missão), no Paris Versalhes, ou noutro qualquer salão de chá, tagarelarem do espectáculo que "NÃO" viram, mas de quem viram, como estavam vestidas e/ou penteadas, com quem iam acompanhadas, etc., etc. Enfim … as naturais fofoquices do mundo mundano.



Como sempre, desde que soubesse, pudesse e me interessasse, eu procurava estar sempre na “primeira” fila dos acontecimentos. Não fazer parte um dia daquela massa humana que semanalmente enchia o Teatro Avenida era “coisa” que não fazia sentido. Assim pensando só teria que levar à prática esse meu querer, e de preferência à “borlex”, pois isso de pagar só em última estância :).
Bom, no caso desta estória a “borlex” aconteceu porque o meu cunhado explorava o bar/café do Teatro e assim foi fácil obter a entrada não pagante.
A acompanhar-me nesse desiderato estava o meu mano Mário, pois cultura e “esculturas esculturais” eram connosco :).
Na época teria 17 anos e Mário 16 anos. Desconhecíamos qual o programa e “saiu-nos” em cena um espectáculo que fez com que desse o titulo deste tema ou seja, era um
" RECITAL DE PIANO"

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Luanda vestia as suas multicolores cores nocturnas para se tornar ainda mais bela.
O néon dos reclamos despejava a sua luminosidade nas águas calmas da baía.
Os luandenses descansavam num dos muitos bancos junto à Baía ou passeavam pelo largo passeio da Marginal, onde as palmeiras ondulavam sensualmente face à fraca frisa marítima que se fazia sentir.
O Café Baía, onde se bebia um excelente café, geralmente mais ocupado por intelectuais que por famílias ou grupos de amigos, era também um bom ponto de encontro.
A esplanada do Baleizão regurgitava de gente, que entre uma cassata (gelado tipo quarto de bola incrustado de fruta seca), uma girafa, uma pata de elefante ou simplesmente um fino, acompanhado das famosas tapas (queijo chulé e presunto), davam o mote para amenas cavaqueiras.



O mais que famoso prédio “Treme Treme” ainda não “tremia”. A noite ainda não era noite, apesar de serem quase 21h45, mas o “tremer” era reservado para um horário mais tardio.
A esplanada da Cervejaria Amazonas também estava quase cheia e entre uma cerveja ou um fino à maneira, um terço era só de espuma, os camarões e lagostins eram degustados como um verdadeiro manjar dos Deuses.
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Timmmmm …… Tommmmm. É o toque de aviso para inicio do espectáculo e eu e o mano Mário entramos e sentamo-nos para presenciarmos, ouvirmos e aplaudirmos o verdadeiro artista.
O pianista, talvez algum nome sonante do momento, levantava os longos braços e os dedos esguios martelavam sem dó nem piedade as teclas pretas e brancas do piano.
Por vezes quase que esses sons eram apenas pequenos e suaves sussurros. Os sons saídos do teclado ao fim de uns quantos prelúdios e outras designações do género começaram, a dado momento, a soar-nos de forma “estridente”, distorcida, angustiante. Já estávamos a ficar sem “pachorra” para aquilo.
Na sala repleta os eruditos assistentes aplaudiam cada finalização do tema tocado. O pianista estava empolgado por verificar que a assistência percebia da “poda” e manifestava esse seu reconhecimento com umas mais quantas marteladas nas teclas. E a multidão continuava a aplaudir. Mas nós não acompanhávamos aquele entusiasmo de bater desalmadamente as palmas. Sabíamos que éramos “profundos conhecedores":)) da matéria e só aplaudiriamos quando verificássemos ser o momento próprio.
E o homem tocava, tocava, e a plateia começou a ficar desassossegada. Então o “desarticulado” pianista não parava para intervalo!!!
O chichi tinha que ser vertido, o cóccix atormentava a coluna vertebral, já não havia jeito de estar sentado e o “louco” continuava a tocar!!!
Até que de repente, o pianista, depois de uma teclada mais forte, levanta os braços e demora mais um “milésimo” de segundo que nas vezes anteriores a baixá-los.
É a “loucura” total. Os ilustres cavalheiros, senhoras e senhoritas aplaudiram, levantaram-se com as luzes da sala ainda apagadas e as portas de saída com as cortinas corridas e "correram" para elas quando o pianista, estupefacto com aquele súbito movimento, deixou cair de novos os longos dedos sobre as teclas e deu continuidade ao prelúdio ou “dilúvio” do que estava a tocar.
Os que ainda “aceleravam” para as saídas regressaram e voltaram a sentar-se, olhando-se feitos parvos uns para os outros e ainda mais atónitos para aquele “desalmado” que não parava de tocar.

O silêncio fez-se na sala altura em que eu e o Mário nos levantamos, aplaudimos de forma repentista, mas pausada, e saímos. Sentimos que aquele era o momento certo para darmos nota do nosso “profundo” conhecimento.
Já nos tínhamos fartado de estar no "profundo dormir" e aquele súbito silêncio acordou-nos verdadeiramente para a realidade. Foi quando saímos, aplaudindo. Era pianista e piano a mais para os nossos atormentados cérebros. Apesar daqueles sons terem sido doces acordes para o nosso adormecer, o certo é que mesmo assim já estávamos fartos do concerto de piano até à raiz dos cabelos.
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Naquele momento, nos dias e anos seguintes, embora o episódio fizesse parte das nossas recordações, das nossas memórias, nunca lhe demos relevo significativo. Só há alguns anos a esta parte, sempre que nos encontramos e relembramos a peripécia rimo-nos até quase perdermos o fôlego, face à situação vivida.
Aguardo também que esta estória vos possa ter feito sorrir, se for lida como se qualquer um de vós tivesse sido um de nós.

Para o meu mano Mário com um Abração e continuação de Boas Férias.

Saudações e Inté